“E vendo Jesus as multidões compadeceu-se delas”
(Mt. 9. 36)
Por Elias Muniz de Deus
É necessário fazermos um corte discursivo
no tempo do carnaval, é preciso atentar para situações e comportamentos muito
pontuais, e já incorporados à práxis do maior número de pessoas que se declaram
cristãs, sim! Porque o carnaval, por incrível que pareça, é uma festa que, em sua maior expressão, acontece principalmente no mundo
cristianizado. Nestes termos surge uma pergunta que se propõe ser prioritária
sobre muitas outras, então! Se o carnaval é uma festa da carne, como é que a
sua manifestação mais significativa acontece justo nas sociedades declaradas
cristãs? O Brasil principalmente; com o maior carnaval do mundo, se apresenta
como cristão católico e também como pátria do evangelho. Esta ambiguidade
brasileira nos desafia a refletir sobre o assunto com certa apreensão, pois se
de um lado é tradição dos evangélicos fazerem retiros espirituais, do outro
lado reina absoluto momo e sua corte de sensualidades libidinosas, onde o sexo é
cultuado numa apoteótica explosão de nudez carnal em supressão a limpidez
espiritual.
O corte que propusemos fazer no tempo do
carnaval, neste momento se apropria de elementos da subjetividade relacional entre
cristãos e de pessoas, assim como de fatos que vimos durante o retiro
espiritual da (Igreja evangélica) Comunidade Eclesial Cristã, em Barra do Corda
MA. Algo maravilhosamente digno, para ser dito por quem lá esteve; um
verdadeiro acampamento do povo de Deus. Mas como o pano de fundo é o carnaval,
não quero minimizar o espírito do evento à simples dimensão do estado de
alegria reinante, tão pouco exaltarei a EXCELÊNCIA da organização, também não
me ocuparei em tentar resumir a essência dos estudos bíblicos e mensagens
proferidas. Basta dizer que tudo foi realizado no propósito único de honrar e
glorificar o nome do nosso Deus, O único verdadeiramente Deus e Senhor de tudo
e de todos. Propósito este, que foi atingido plenamente.
Então! Além de conhecer pessoas, e interagir com elas nas discussões
temáticas e fora delas, vivenciamos situações peculiares que só nestas ocasiões
acontecem; a coisa do congraçamento entre irmãos, e da contagiante vontade de
não mais voltar aos afazeres deixados para trás. É neste exato contexto que
somos desafiados a pensar no olhar de Jesus sobre as multidões, é neste corte
de perspectiva que se nos depreende perceber com gravidade o quanto há de
hipocrisia, particularmente e principalmente entre os que no corpus da igreja
atual são distinguidos como pastores, cuidadores do rebanho, Homens de Deus,
forjados na fé para apascentar as ovelhas do Senhor, e não o fazem. Quando vi a
multidão, a estrutura montada para abrigar os acampantes, e tudo que foi feito
para acolher e garantir o bem estar da multidão, comecei a me questionar sobre
a diferença dos olhares. O olhar de Jesus sempre foi de compaixão, os gestos de
Jesus sempre foram de verdadeiro pastor que ama as ovelhas, e neste interesse
ele dá a própria vida por elas. Assim, neste corte discursivo sobre o carnaval,
podemos ver com muita clareza o quão diferente é o olhar dos que estão pastores
e não o são, o olhar deles é, sobretudo, altivo e pretensioso, é olhar de gula
devoradora, os gestos que ora são vistos como pastorais, estão carregados de puro
ritualismo e habilidades para demolição, divisão e espalhamento. Falta muito,
aos que perderam a capacidade da compaixão, ter obediência ao ensino de Jesus,
particularmente no que toca a regra obrigatória aos que querem ser grandes, no
meio do povo de Deus. Falta lhes o jeito para ser o menor, e menos ainda, a
vontade de ser servo. Falta aos que se elevam aos púlpitos a capacidade de
servir. E quanto a se humilharem para serem exaltados, nem pensar. Oxalá aos de
Barra do Corda, e de todos os lugares do Maranhão e Piauí, ao lerem estas
opiniões tenham a humildade de questionar consigo e com Deus sobre as atitudes
erradas decorrentes dos olhares que tivemos e orgulhosamente estamos mantendo
em relação ao rebanho do povo de Deus.
Encarar desafios, foi a proposta temática
do Retiro da Comunidade Eclesial Cristã, foi também para os da Igreja Cristã
Evangélica Peniel, a felicidade de ter o que compartilhar com os irmãos que gentilmente
os hospedaram em seu acampamento. Aos da “Peniel” fortaleceu muito mais a
disposição para prosseguir na construção de uma unidade mais fraterna e mais
cristã, uma identidade em Cristo total quanto verdadeira para ser e estar
ocupados com as coisas e interesses do reino, tanto quanto distantes do
carnaval. E que seja oportuno a todos indistintamente pensar nas diferenças de
olhares; o de Jesus cheio de compaixão, e o olhar dos que se pastoreiam em nome
de JESUS, porém, orgulhosos e cismáticos. Pois, com certeza Deus se agrada dos
humildes, e daqueles que não olham com altivez, e com isto Ele assegurou a bem
aventurança aos pacificadores. Que Deus transforme a nossa fome e sede de
justiça em ações vigorosas pela pacificação dos irmãos.
ELIAS MUNIZ DE DEUS
Jornalista
Membro da Igreja Cristã evangélica Peniel em Teresina