Crônica da capital federal

Voltei a Brasília depois de 21(vinte e um anos), sem falar que no início da década de 70(setenta) do século passado estudei aqui durante um ano e meio sob a tutela financeira do mestre Hiran Silva, meu pai, que me sonhava médico um dia e a solidariedade de Tia Iris Silva e sua família de primos e primas. Mas reconheço que Brasília nunca esteve nos meus planos de domicílio pessoal e vida profissional por isso fiz de tudo pra não me manter neste aglomerado de apartamentos sombrios, de vias largas geométricas e cidades satélites cheias de lama amarelada e que agora entristecem os cenários com os seus zumbis do craque perambulando para um lado e outro de maneira escancarada. 
Mas voltei no tempo certo,  mesmo ficando distante dos podres poderes que germinaram ao longo do seu nascedouro como diriam os velhos cronistas de outrora. E já estou há oito dias desfrutando de um convívio familiar de paz e muitas visitações nesta quimera de Dom Bosco que se fez verdade real dos fatos pelas mãos de Niemeyer, Lúcio Costa e Burle Marx, os três mandarins do Seu Juscelino e de Dona Sarah. Tem sido muito boa esta volta regada a Mônica, a Lorena e chuvas que caem volta e meia sobre a Ceilândia que, temporariamente, tem sido nossa.
Sei que Brasília continua escondendo seus heróis mortos, também, maranhenses, piauienses, cearenses, baianos, goianos, mineiros, brasileiros e brasileiras com seus casacos de moletom repelindo os frios das madrugadas,  na sobrevivência pelo naco de pão caro, de comida cara como se tudo fosse fim de linha, fim de caso, fim de tudo. Brasilienses, candangos distantes das benesses sociais, dos poderes que falaram em esperança e que se desviaram dos objetivos traçados pelos milhões de pobres que depositaram seu olhar na direção do devaneio do velho bispo.
Nem tudo por aqui em BSB é reflexão profunda, digressão ideológica sem sentido mais  porque a família,  que nos hospeda com generosidade,  tem nos ensinado, neste início de 2016, neste janeiro de 2016, que ser generoso é partilhar o pão caro, a cama quente, o carro sempre a disposição  e até mesmo o computador profissional para esgotamento destas frases previsíveis.
Brasília urge. E por ser mais uma cidade do meu país a contar seus crimes, suas crises sociais, vai ficar, quem sabe, na foto eclética de um celular de imagem trêmula ou na memória já falha deste cronista menor mais uma vez.