Por Leonardo Sakamoto
O sujeito me explica a razão de ser ateu e não acreditar em divindade alguma. Reclama do que chama de “comportamento de trevas''.
Depois passa o dobro do tempo indignado comigo porque não concordo que o seu político-magia é a pessoa mais fantástica e tchap-tchura que já surgiu na face deste planeta, num amor cego que nem Romeu teria por Julieta.
Para ele, o mandatário em questão é o articulador-mor, o iluminado, aquele-que-tudo-sabe, o catequizador dos perdidos, o destruidor da incompetência, o libertador da ignorância, é alfa e é ômega, é global e é local. De sua boca escorre leite e mel, seus olhos penetram e ferem de morte a hipocrisia dos ímpios, suas mãos não criam ofícios e projetos, mas arte-política que o tempo nunca apagará e seus pés… Ah, seus pés não se cansam na busca por Justiça.
Critica-lo na frente do sujeito é pecado equivalente a xingar a mãe de porca, a espancar criança em festa infantil, a roubar esmola de uma pessoa em situação de rua, a rodar aquele LP da Xuxa ao contrário. Sua indignação queimava em chamas através dos seus olhos de tal maneira que achei que, naquele momento, eu seria imolado feito um carneiro em nome de seu novo deus.
E deuses têm sido talhados, à nossa imagem e semelhança, entre autointitulados progressistas e conservadores com uma frequência assustadora.
Em tempos de vida polarizada e da sacralização da idiotice, pergunto: Do que adianta uma pessoa se libertar de uma prisão para cair em outra?