A poesia de Jean Carlos Gonçalves
PERMITA
Permita que, no umbral da eternidade,
Da minha finitude, eu exista!
Deixai que minha imperfeição se apresente.
E, assim, desnude qualquer engano.
Permita que, em cada brinde,
O vinho revele minhas incongruências,
Ou desmascare a representação de Semideus
Que tu fizeste, inocentemente, de mim.
Permita que nossos olhares,
Cumprimentos e afagos...
Abraços compartilhados, sob o teu olhar de censura,
Assumam outro sentido.
Permita, ao menos, um único olhar.
Apenas um, eu suplico! Um único olhar teu...
Um olhar de tua face pelo espelho da minha.
Permita que eu não seja mais:
O meu próprio algoz, carrasco contumaz;
Insuportável fardo!
A condição de arquiteto de meu holocausto.
Permita que eu continue urgindo
Pela minha absolvição
Para que eu não submerja o encanto
Da necessidade de teu perdão.
Permita que eu não sinta desonra da minha culpa,
Que eu continue acreditando na minha humanidade.
Deixa eu não ser tudo aquilo, lembras?
Que tu gostarias ou acreditavas que fosse.
(Jean Carlos Gonçalves)