Ei, a crise é muito grave mesmo

:

Por Hélio Doyle

Bastar ler os jornais, ouvir as notícias no rádio e na televisão, ou acompanhar os portais e as redes sociais. Para os mais atentos, basta ver o que se passa no nosso cotidiano: preços mais altos, amigos e conhecidos desempregados, salários atrasados, lojas fechando, obras paralisadas, restaurantes mais vazios e por aí vai. A gravíssima crise econômica e financeira pela qual passa o país está à vista de todos. Crise que se reflete, para baixo, nos estados e nos municípios. E, que, embora não causada exclusivamente por fatores externos, reflete o que acontece em praticamente todo o mundo, a começar das potências China e Estados Unidos.

Por incrível que pareça, porém, muita gente no Brasil parece não ter ainda consciência do que está acontecendo. Ou parece não acreditar no que se vê a olho nu ou pelos meios de comunicação. Pensam e agem como se nada estivesse acontecendo, nem em sua cidade, em seu estado, no país e no mundo. E, entre esses muitos, não estão só pessoas desinformadas, ou alienadas da realidade. Estão também pessoas de alta responsabilidade pública, mas essas com uma diferença crucial: não podem alegar desconhecimento, ou idiotice crônica. Essas sabem muito bem o que está ocorrendo e o que mostram, ignorando a crise, é irresponsabilidade e descompromisso que beiram a prática de ações criminosas.

Ter a consciência de que existe uma crise grave é o primeiro passo para enfrentá-la. Se não há essa consciência, nada se faz para melhorar a situação. A superação da crise exige medidas duras e que afetam as pessoas, e que por isso tendem a ser rechaçadas pelos grupos que se consideram prejudicados. A questão, em toda crise, é quem vai perder mais e quem vai perder, porque todos vão perder alguma coisa. Um governo à esquerda tende a proteger os trabalhadores e os mais pobres, um governo à direita tende a defender os interesses do empresariado e dos mais ricos. Bancos e banqueiros, geralmente, são um caso à parte: sempre estão ganhando.

Quando há uma crise, é preciso fazer ajustes, mas também pensar em como retomar a normalidade e avançar. É preciso cortar gastos, desde que não sejam essenciais ao atendimento de necessidades básicas da população, especialmente dos mais pobres, e que por isso mais precisam do Estado. É preciso reprogramar despesas, para cortar supérfluos e investir os recursos economizados em algo fundamental. Mas, antes de tudo, é preciso ter a disposição de enfrentar a crise.

Hoje, no Brasil, entre os que ignoram a crise, ou fingem ignorá-la, estão, por exemplo, o Poder Judiciário e o Ministério Público, que mantêm suas mordomias, como o absurdo auxílio-moradia. Ou senadores, deputados e vereadores que impedem, com discursos demagógicos e populistas, que os governos tomem medidas adequadas. Ou governantes que continuam gastando no que não devem, e deixando de atender às questões básicas em áreas como saúde, educação e segurança.

Nessa turma dos desinformados, alienados, irresponsáveis ou idiotas crônicos, estão também sindicalistas que exigem aumentos salariais e benefícios para trabalhadores e servidores que já recebem remunerações elevadas. E até, ressalvando aqui o esquerdismo infantil e a imaturidade juvenil de seus protagonistas, o que releva as bobagens que dizem, os que falam em tarifa zero nos transportes coletivos, como se isso fosse factível no momento em que vivemos.

O governo tem a obrigação de sair da paralisia medrosa e apresentar, para o debate público, suas propostas para enfrentar a crise. O Congresso tem a obrigação de decidir logo se vai continuar com um bandido presidindo a Câmara e se vai ou não destituir a presidente da República. O Poder Judiciário tem de voltar das imerecidas férias disposto a fazer horas extras para tomar as decisões que vão desatar os nós que ficam dependendo de suas excelências. A população tem de entender que o momento pelo qual passa o mundo, o país, cada estado e cada município, não comporta reivindicações irreais e definidas por uma visão equivocada do que seja o bem comum e por estratégias pseudo-esquerdistas e pseudo-revolucionárias, de um lado, ou neoliberais e elitistas, de outro.

Hélio Doyle é jornalista, foi professor da Universidade de Brasília e secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal.