Por ELIAS MUNIZ DE DEUS/ICE PENIEL/TERESINA
Ao refletir sobre a trajetória do filho desperdiçador (pródigo), espero que os leitores tenham no mínimo encontrado um paralelismo entre a representação do que foi a vida dele, na sociedade distante, com a vidinha ideal que não só os jovens aspiram, mas as pessoas de um modo geral também a querem, independentes de idade ou classe social, também a desejam como forma de felicidade, ter na vida todas as possibilidades de prazer, deleite e satisfações dos sonhos, vontades e vaidades sem ter com que se preocupar.
O nosso pródigo aventureiro, acalentava tudo isso, olhava para o mundo fora do círculo familiar e sonhava com um dia de libertação, para gozar tudo que o dinheiro pudesse comprar e extravasar todas as emotividades reprimidas. Mas..., no decorrer dos acontecimentos; veremos que o foco central dessa história se deslocará de sobre o jovem pródigo infeliz, para outros personagens periféricos que aos poucos são locados na cena para nos proporcionar a nítida compreensão do objeto de fundo das questões que por ventura tenham sido levantadas nas reflexões pessoais de cada leitor.
Então! O personagem coadjuvante da cena principal, com o jovem, é o próprio pai, e se atentarmos, perceberemos que ele entra na história já em segundo plano. Considerando que o filho não tem por ele nenhum apego e em vista do que pretendia, ele também não o vê como pai, mas como o problema, ou o obstáculo entre a vontade de se apoderar dos bens paternos e o mundo, onde gastaria as riquezas sem a vigilância ou censura de ninguém. Pois de que adianta ter herança e não poder dispor? Ter dinheiro e não poder gastar? Ter uma vida inteira para viver e não viver do modo que se deseja? Diante da importuna exigência da herança de um pai vivo, plausível será, entendermos o grande silêncio paterno, aquele momento em que nenhuma fala se ouviu daquele pai sofredor, algo que denuncia silenciosamente a grande decepção de um pai diante da insensatez de um filho.
Esse pequeno detalhe não pode deixar de ser apreciado, especialmente porque questiona a cena de cada um. Afinal diante do caráter mesquinho do filho, podemos dizer que o conhecemos com suficiência, mas quanto ao pai? O que podemos inferir dele? Que tipo de pai era esse? Muito fácil encontrar as respostas que o definem como um simples pai, alguém da mesma cepa que exerce o governo da casa e gerencia os bens da família com absoluta solidariedade, alguém que consegue fazer que todos do convívio, quer da família, agregados ou trabalhadores vivam com dignidade, tenham abundância de frutos e bens, e participem do clã com satisfação.
Resumindo, este pai era em todas as horas, em todas as situações e em todos os lugares, o pai presente, um pai vivendo a realidade de uma família ameaçada pelo mundo que a circunda, isto porque ele estava no lugar que todo pai deve estar. À frente dos filhos e também, a frente dos negócios e dos trabalhadores que o serviam. Um pai no legítimo papel de pai, o provedor e sustentador de sua prole.
Conhecido o perfil deste pai, podemos agora considerar algumas questões sobre o filho mais novo, o jovem mais atirado e inconformado com a regularidade de uma família convencional, então se perguntará; e este jovem aventureiro e amante do mundo, que tipo de pensamentos ele tinha a respeito de seu pai? Que conceitos ele tinha do papel de um pai, que atitudes ele tinha em relação ao lar e ao caráter do pai? Podemos dizer que o total silêncio de falas do pai s indica que antes de qualquer coisa, o filho caçula não tinha nenhuma consideração pelo pai, ele não o valorizava. O máximo que o pai lhe representava era o obstáculo entre a fortuna de uma pretendida herança e o mundo onde ele queria ser feliz.
Além do pai, também irmão e outros entes familiares nada representavam, o nicho familiar, o lar não tinha qualquer importância para aquele jovem. A única coisa que ele queria era receber a fortuna e sair para um lugar muito distante, para se dar bem e ser feliz.
Jesus ao contar esta parábola o faz em terceira pessoa, entretanto, por ser uma parábola, não exclui os elementos psicológicos de um enredo instigante, e o que o mestre dos galileus pretendia com esse recurso, era fazer que os ouvintes os descobrissem. Que eles pudessem se colocar dentro do problema cênico, e das experiências do jovem aventureiro, para entender com clareza a perfeita semelhança que existe entre a disposição do filho pródigo, de ir para longe e ficar distante de seu pai, para gastar o que tinha como bem o quisesse, com o que acontece em tempo real com todo individuo de mente natural que não percebe que Deus existe ou não se interessa em saber que ELE realmente é. Este homem em sua natureza carnal, só precisa de Deus nos momentos graves em que algo o põe em xeque, ou que um desespero de situação exija um milagre, quando não, Deus fica de lado e quanto mais distante melhor, porque Deus é santo, é reto e justo, e para o homem carnal, a santidade é pós mortem, a retidão e justiça não fazem parte dos valores deste mundo, onde as boas coisas precisam ser aproveitadas.
Portanto; o melhor é que Deus fique para trás, fique fora dos planos de vida por viver, em contrapartida a isso, todos que se afastam de Deus acreditam que o mundo pela frente se abrirá mais e melhor, afinal a vida é curta e dela não se leva nada para o além, aqui quem não quiser se dar bem é otário; dizem!
14. Depois de ter (o jovem) consumido tudo, sobreveio aquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade.
15. Então, ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a cuidar de porcos. (Evangelho de Lucas cap. 15)
Fica então a pergunta para você responder, justificar e refletir:
Quem é Deus para você? E aonde você está em Relação a Deus, em fuga para longe?