Por: José Renato Nalini
Quando D.Pedro I trouxe a Faculdade de Direito para o Brasil, uma na capital paulista, a velha e sempre nova academia do Largo de São Francisco, outra em Olinda, equiparou o professor ao desembargador. Com o passar dos anos, o magistério viu sua remuneração minguar, assim como o seu número crescer. Hoje o magistério reclama de salário insuficiente. Mas o salário não é a maior perda. Quanto representa a auto-estima ferida? A falta de respeito, a ausência de polidez, a desconsideração a que são submetidos tantos mestres?
Há pouco uma charge era bem eloquente no cotejo da situação do Magistério há algumas décadas e hoje. Antigamente, se o aluno tivesse uma nota “vermelha“, era admoestado pelos pais. Eles aplicavam castigos, proibiam o lazer, impunham uma rápida regeneração da performance. Hoje, se a nota não corresponde à expectativa do aluno, os pais procuram o colégio, reclamam com o diretor e enfrentam o professor. Este, em vários nichos de excelência, é considerado um empregado do aluno que sustenta o equipamento. A relação de consumo também se estabeleceu na educação privada. Quem paga tem direito a exigir conduta submissa do prestador de serviço.
E o que dizer dos professores da rede pública, ameaçados e até agredidos? O desrespeito devotado ao profissional que, em culturas mais civilizadas é o mais prestigiado na hierarquia, demonstra bem a que nível chegamos neste pobre Brasil. No Japão, o professor é o único ser dispensado de se curvar perante o Imperador. Aqui, ele é curvado pelo peso das aflições, da ingratidão e da falta de reconhecimento. Não se generalize. Ainda há famílias que não declinaram de educar seus rebentos e transmitem o essencial: a polidez, a boa formação de berço, aquilo que não se pode exigir da escola. Mas são raras as que se lembram de que 15 de outubro é dia do professor e que ele merece ao menos um sorriso, um carinho, uma palavra de afeto e gratidão.
*José Renato Nalini é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015.
Fonte: Blog do Renato Nalini.