Crônica: “Tuntum, Setenta Vezes Primavera”


Por Emerson Araújo/da ATLEA

Setenta anos se passaram e Tuntum ainda acorda com o cheiro do café coado na hora, da conversa na calçada e do chão vermelho que teima em grudar no sapato e na memória. Há quem diga que a cidade mudou. Mudou, sim. Mas não trocou de alma. Tuntum ainda é aquele lugar onde o tempo caminha devagar, como quem respeita as histórias que moram nos muros, nas praças e nos olhos dos mais velhos.

Em 2025, Tuntum celebra sua sétima década como quem celebra uma colheita farta: com gratidão, com música e com fé. A cada canto, ecoa um “Parabéns!” que vem carregado de lembranças — da primeira escola, da chegada da energia, dos bailes no clube, das rezas nas novenas e do batuque das festas de setembro.

A cidade cresceu. Ganhou asfalto, luz de LED, sinal de internet. Mas ainda se ouve o cantar do galo e o chamado das mães ao entardecer. Ainda se dança forró no chão de cimento e se acredita na força de um aperto de mão. Em Tuntum, modernidade é uma palavra que convive bem com saudade.

O povo? Esse nunca mudou. É o mesmo que carrega a cidade no peito como um brasão invisível. Que planta esperança mesmo em tempos de seca. Que sorri com os olhos e acolhe com o coração. São eles que fizeram Tuntum chegar aqui: os que vieram de longe e os que nunca saíram; os que ensinaram nas escolas de palha e os que hoje escrevem poesia digital.

Setenta anos não são apenas datas, são capítulos de um livro vivo. E se Tuntum fosse um livro, seria daqueles de capa simples, mas de leitura obrigatória. Um lugar onde cada página é escrita com suor, coragem e amor.

Hoje, as janelas se enfeitam, a praça se ilumina, e o céu de julho parece ainda mais azul. Porque Tuntum não é só uma cidade: é um pedaço de chão que aprendeu a sonhar alto sem tirar os pés da terra. E que venham mais setenta, com essa mesma alma sertaneja e esse mesmo coração que nunca envelhece.