Eram dois irmãos vivendo em família, onde nada lhes faltava, o pai muito rico, tudo lhes supria, vivia para cobrir-lhes de dádivas e tudo fazia para que os dois fossem muito felizes. Um dia, porém, assim surpreendentemente, o filho caçula se dirigiu ao pai e exigiu a antecipação dos bens da herança que futuramente poderia receber. O pai embora contrariado atendeu a vontade do filho, e logo, ele partiu para outro país, onde passou a ter uma vida de luxo, ostentação e muita vaidade, dado que era jovem e muito rico.
Ele então se juntou aos jovens que tinham a mesma idade e passou a frequentar os lugares mais caros para se divertir muito, gastava altas quantias em noites seguidas de muita balada, bebidas e farra com as mulheres mais bonitas daquela cidade. O jovem estrangeiro gastava muito, dava festas, distribuía presentes para os amigos e não se dava conta de que a fortuna que recebera do pai estava desaparecendo, e assim sucedeu. O dinheiro foi acabando e a miséria o abraçou numa hora muito inconveniente, justo, quando os amigos dele se afastavam, cada um alegando motivos não muito claros. O fato é que ele tentava esconder a condição de pobreza em que caíra, e enquanto ninguém sabia de sua desgraça, procurava estar por perto dos mesmos círculos sociais e dos mesmos lugares onde por muito tempo fora recebido e considerado o rei do camarote. Só que os antigos amigos, os poucos que ainda lhe distinguiam, passaram a ignorá-lo quando percebiam que a eles se achegava, chamava lhes o nome, mas eles fingiam e não lhe davam ouvidos. Quando queria justificar a deplorável condição, então zombavam e fugiam de sua presença.
Um a um, dos melhores amigos e amigas, dos banquetes e noitadas, viraram as costas e passaram a hostiliza-lo com xingamentos e por fim o expulsaram dos seus ambientes sofisticados. O jovem, eis rico, decepcionado consigo e com o mundo que não mais o reconhecia, passou fome, privações e abandono, chegou a pensar muitas coisas ruins, mas por fim descobriu que talvez se conseguisse um emprego, seria capaz de recuperar a fortuna e voltar a ter vida alegre outra vez, e até recuperaria os amigos. Mas as decepções o seguiam de perto, e o jovem de estirpe nobre já não guardava mais nem a aparência de suas origens. E na busca por um emprego, nada muito digno lhe foi oferecido.
Quando já não tinha forças para se manter se manter de pé, aceitou o emprego que apareceu, cuidar de porcos, num lugar fora da cidade, mas a perspectiva de ter refeições que o saciassem logo se desvaneceu, o patrão o avisou que lhe dava o trabalho, mas a alimentação era por conta dele mesmo, que se virasse e trabalhasse até poder receber o salário combinado. O que fazer? Agora tinha o emprego, mas a miséria e sua pajem chamada fome não arredavam o pé, estavam coladas nele, tamanhas eram as humilhações e sofrimentos que o jovem desejou ardentemente comer a ração que os animais da pocilga comiam.
Neste instante tão particular da vida deste rapaz, em face da desgraça que o alcançou, gostaria de propor alguns pontos para uma reflexão ponderada sobre o que podemos tirar de proveito e sabedoria da experiência e trajetória deste jovem, em sua caminhada pelo mundo. A primeira proposição é tentar traçar o perfil deste jovem olhando cuidadosamente o lado psicológico, o lado social e moral, e também o lado espiritual, vamos contextualizar o perfil formado e fazer um exercício pessoal de auto reflexão pelo viés da substituição, ou seja, procure encarnar você as vivências do rapaz e tire as conclusões mais honestas possíveis no que há de semelhante entre você e o jovem da história. Para ter um melhor proveito deste exercício procure ler no Evangelho de Lucas cap. 15 de 11 a 17. A parábola do filho desperdiçador.