A saída de Raimundo Cutrim do grupo Sarney ainda continua sendo um dos assuntos de maior repercussão nos bastidores políticos do Estado e foi tema do editorial de hoje do Jornal Pequeno.No editorial, é citado um descontentamento latente na base governista, que pode provocar outras debandadas de aliados históricos de Roseana Sarney além da anunciada pelo deputado Raimundo Cutrim que durante vários anos esteve sempre ao lado da governadora.
VEJA A INTEGRA DO EDITORIAL
O efeito Cutrim
05/09/2013
Editorial do Jornal Pequeno
Cutrim foi o primeiro, mas não significa que será o último. Está, de fato, ficando difícil fazer parte da base aliada de um governo que desponta em fama ruim na imprensa nacional. Um governo marcado por um processo de abuso de poder político e econômico que aguarda julgamento; um governo denunciado à Procuradoria Eleitoral por supostos convênios suspeitos, uso de aeronaves pagas com dinheiro público e construção de banheiros inexistentes.
O efeito Cutrim tende a atingir a bancada descontente de Roseana Sarney, que não é tão pequena quanto imaginam, pois aqui ali se sentem na Assembleia os sinais de que as relações entre Executivo e Legislativo nem sempre são tão cordiais. Já aprovaram, por exemplo, a convocação do secretário da Sedes, Fernando Fialho, e manifestações de bastidores revelaram neste e em outros episódios a presença de grupos descontentes. De sua parte, o governo é um governo apavorado. O governo tem medo da cassação e tem medo do vice-governador; o governo tem medo do presidente da Assembleia, e, para completar, treme de medo da performance eleitoral do candidato Flávio Dino.
Nesse clima, ao deixar a base do governo e anunciar sua filiação ao PCdoB, Cutrim não é apenas um magoado ou raivoso com a perseguição, segundo denunciou, que lhe foi promovida pela Secretaria de Segurança Pública e pelo Sistema Mirante. Como foi auxiliar de Roseana por longos 10 anos, passa a encarnar a dissidência mais histórica do sarneisismo nos últimos tempos, e pode estar encabeçando uma fila de seguidores ainda amedrontados, como aqueles, por exemplo, que acham que a candidatura de Luís Fernando foi uma imposição.
Cutrim, além do mais, conhece por dentro as estratégias eleitorais do grupo Sarney e todo ato contra ele terá o efeito de um bumerangue. Sai do governo na hora crítica em que as pesquisas apontam uma larga vantagem da oposição e analistas políticos nacionais preveem o fim do ciclo Sarney no Estado. A hora crítica em que todos esperam o julgamento de Roseana Sarney no Tribunal Superior Eleitoral e em que avaliam quase todos que se julgamento houver a cassação é inevitável.
A oposição passa a contar, também, com a experiência policial de um deputado que foi secretário de Segurança anos a fio e que saberá, com muito mais propriedade do que Rubens Júnior, Marcelo Tavares, Othelino Neto e Bira do Pindaré, desencavar convênios suspeitos e localizar agentes da corrupção. Além disso, foi um dos deputados mais votados na última eleição, sendo uma liderança considerável e talvez o policial mais respeitado hoje nas polícias civil e militar. A saída do deputado Raimundo Cutrim do governo já era esperada. O difícil agora vai ser o governo se livrar do deputado Cutrim.