Embora não tenha sofrido grandes traumas na infância, Adolf Hitler foi superprotegido pela mãe. Isso resultou em uma gestão emocional comprometida, já que ele foi uma pessoa introvertida, depressiva e que se sentia diminuída socialmente, o que mais tarde se transformou em um complexo de superioridade. É o que afirma Augusto Cury em"Gestão da Emoção".
Ele explica que, na época em que Hitler estava vivo, a Alemanha passava pelo estresse do Tratado de Versalhes: fragmentação política, vácuo de liderança e inflação altíssima. O ambiente cheio de tensão produziu coletivamente a Síndrome do Circuito Fechado da Memória, diminuindo a consciência crítica da população.
O anseio por um salvador da pátria contribuiu para que surgisse um orador extremamente teatral, que iniciaria uma gestão política insustentável, fundamentada em discursos megalomaníacos.
"Hitler seduziu a sociedade mais culta de seu tempo, a terra de Kant, Hegel, Schopenhauer. Ele propagandeou, em prosa e verso, o quanto a Alemanha fora humilhada e injustiçada pelos impostos pesados que pagava por conta da perda na Primeira Grande Guerra Mundial. Ele estressou o povo alemão alardeando as ameaças que o país sofria e, ao mesmo tempo, exaltou sobremaneira a cultura e a coragem de seu povo - técnicas típicas de ditadores, as quais serviram para aumentar seu índice de popularidade", escreve Cury.
Para o psiquiatra, a influência de Hitler equivalia a uma bomba emocional. Ele opina que todo político, antes de assumir um cargo, deveria passar por uma avaliação psiquiátrica, psicológica e sociológica detalhada.
"Dirigir uma empresa, uma instituição, uma cidade ou uma nação sem ter aprendido as ferramentas básicas para ser líder da própria mente pode gerar necessidades neuróticas graves: de se perpetuar no poder, de estar sempre certo, de controlar os outros e de estar sempre em evidência social".
Tudo culmina na gestão da emoção. Sem ela, o projeto pessoal acaba sendo mais importante que o projeto de governo, transformando o líder num predador da sociedade. O desejo de se eternizar no poder é uma característica de personalidade doentia, ressalta Cury, e atitudes imediatistas desconsideram a sustentabilidade a longo prazo.
Tal comportamento anula a felicidade inteligente. É por isso que muitos líderes desconhecem que o poder e o excesso de exposição social podem asfixiar o prazer e o equilíbrio. Não desenvolver uma emoção estável também faz com que o indivíduo não perceba que a grandeza da vida se encontra nas coisas simples.
Sugerindo ferramentas para corrigir a rota do mau uso da emoção, o livro traz técnicas simples para trabalhar melhor os sentimentos e expandir as habilidades vitais da inteligência. As dicas são úteis para profissionais de áreas diversas e também para pessoas de todas as idades que querem garantir saúde psíquica.
Sobre Hitler e o surgimento de outros líderes sem gestão emocional, Augusto Cury questiona: "Se a Alemanha se curvou para um sociopata estrangeiro, que sociedade estará livre de se curvar a novos Hitlers num ambiente de aquecimento global, insegurança alimentar, escassez de energia e radicalismo religioso? Se os alunos das escolas de ensino fundamental e médio, bem como universitários, não aprenderem as ferramentas mínimas de gestão da emoção que estamos estudando, como a sociedade desenvolverá consciência crítica para não se deixar seduzir por salvadores da pátria que alardeiam soluções mágicas e inumanas?".
Fonte: Livraria da Folha