Editorial: Política e ameaça


Jornal Pequeno


Há pouco mais de dois anos, um colega nosso, Décio Sá, foi morto brutalmente na Avenida Litorânea, em São Luís. E não nos falem de suas posições políticas, de sua defesa exagerada do poder, que não podemos encontrar motivos para que um ser humano tire a vida de outro ser humano. Não gostar de uma pessoa é uma coisa, querer brincar de Deus e adquirir poder de vida e morte sobre seus semelhantes é outra muito diferente, e bem pior.

Lidamos agora com a notícia de que o editor do blog Marrapá, Leandro Miranda, está sendo monitorado e seguido por bandidos. Não vamos fazer conjecturas, nem nos precipitar, mas o fato é que vivemos um momento muito grave da política maranhense e brasileira. E sabe Deus do que são capazes determinados homens quando em luta pelo poder. Qualquer tipo de ameaça, a qualquer tipo de agente político, neste momento, é motivo para que as forças de segurança pública se ponham em alerta, para que tomemos todos os cuidados de evitar selvagerias e tragédias que talvez não possamos suportar.

Num mundo como esse, em que atiram em crianças, em que cortam cabeças, aqui e no Estado Islâmico, não é tão difícil que o ser humano desça à condição das feras e dos monstros, pelo fato de que alguém escreveu ou disse alguma coisa que não lhe agradou. A disputa política, às vezes, é capaz de acender nossos mais baixos instintos e o jornalismo é uma profissão perigosa. Talvez a profissão em que se perdem mais vidas a meio caminho das denúncias e da informação neste país.

É até lamentável ter que dizer isso, se não sabemos os motivos desse monitoramento e dessa perseguição. Mas Décio foi morto por gente que emprestava dinheiro aos poderosos, fosse aqui, na capital, fosse no interior do Maranhão. O fato é que o desalento da condição humana, a vontade de crescer, de ser sempre o maior, de vencer todas as disputas – porque esta é uma sociedade de disputas – tem criado monstros emocionalmente inexpugnáveis e afastado o ser humano de Deus.

Só não podemos admitir que a raiva e o ódio, a busca pelo máximo conforto e poder façam de nós sicários de Belzebu e que nem a vida humana, a conquista máxima do bem estar, tenha mais valor.

A simples ideia de que a ameaça, o terror político venha a substituir a legalidade, a emoção boa de quem aprendeu a amar o próximo e que o espírito das leis seja arrancado à convivência social apavora os homens de bem. Afinal, devemos todos lutar para viver num mundo melhor. Não esse, em que bandidos arrancam cabeças, em que alguns loucos desvairados matam em nome de Deus e no qual o exercício do poder, em vez de servir ao bem de todos, transforma-se em ameaça social.

Delegamos a outros o direito de preservar nossa vida. Que eles preservem. E fiquem atentos, porque o mal surge de muitas formas, e viver com medo não é viver. É um apelo, um forte apelo para que outra tragédia anunciada da crueldade não se abata sobre o Maranhão.