Ricos contra o PT. Por quê?


Por Fonseca Neto
Diário do Povo/Teresina

Tudo começa na perversão ideológica cuidadosamente produzida e disseminada por ricos (e metidos a rico) que afirma que pobre no Brasil “é pobre porque não trabalha”.

Analisando a última pesquisa Datafolha sobre intenção de votos para presidente, o diretor-geral desse Instituto, Mauro Paulino (13/04, p. 6), chamou a atenção para o que denomina eleitores “causa perdida” para Dilma Rousseff. Trata-se do não apoio à candidata petista pela maioria dos eleitores considerados “escolarizados e de renda acima da média”; ricos para os padrões brasileiros, digo eu. Diz Paulino ser a “classe média tradicional das grandes cidades”. E os que seguem seu pensamento e forma de agir - acrescento eu.

Essa pesquisa, como tantas anteriores, não revela nenhuma novidade, porque basta andar por aí para se notar evidências disso. Ou nem andar, porque o midião empresarial-monopolista que veicula a fala e os valores dessa chamada “classe rica”, faz a manifestação de desapreço e até de desafeição à presidente e a seu Partido de maneira sistemática e antidemocrática.

Por que essa parcela enriquecida da população devota tanto ódio ao PT e à presidente petista do Brasil? Falhas na condução administrativa? Juros altos na economia? Corrupção? Alianças políticas para se manter no poder? Nada disso faz rico repudiar PT, Dilma, Lula etc. O ódio tem outra origem –na identificação desse Partido e dessas lideranças com gente pobre, sobretudo no diz respeito a algumas ações que favorecem a inclusão social da parcela da população trabalhadora historicamente alijada. Falamos algumas opções, porque o PT – tirante o fim da fome e a empregabilidade ampla decorrente de sua política econômica – nem ensaiou mexer na estrutura econômica e política herdada de séculos e que, no Brasil, sempre beneficiou os ricos. A raiva contra pobre se manifesta como hediondo preconceito.

E por que rico, ou quem se pensa e acha como tal, tem tanto preconceito em relação a pobre? É só estudar a história do Brasil e identificar as maneiras de pensar e agir, por exemplo, de colono branco, europeu, em relação a índio e a negro. Quando Pedro Cabral e Pero Caminha viram os aborígenes pela primeira vez, em Pindorama, que pensaram e disseram, entre outras coisas? Eles podem servir a nós como escravos... Aliás, trouxeram uma autorização do papa para assim agirem.

Os ricos (e metidos a rico) enxergam o pobre como aquele que deve ser seu escravo. Os ricos (ou metidos) querem ser os amos e sua ideologia é a do capataz de chicote à mão. Ainda prevalece o comportamento do empresário e do chefe de repartição pública que exige de empregados se comportem em relação a eles

como devedores de um favor e não como sujeitos de um direito. Essa perversão cultural tem origem na diferenciação das classes sociais. É o peso sombrio de quatrocentos anos de escravidão e iniquidades correlatas.

As políticas compensatórias do PT no poder que estão eliminando a fome, como parte de uma política econômica que vem garantindo ampla empregabilidade de pobres, que mudam de vida rapidamente, são os pontos mais odiados pelos ricos (e metidos). Por quê?

Fala Paulino nos “escolarizados”. “Classe” escolarizada? Esta condição, no Brasil, no limite, faz é ajudar a ser intolerante, a ser instrumento aperfeiçoado de exclusão: estou falando da “escola” brasileira que “serve”, “escolariza”, essa “classe média tradicional”, a qual é uma fábrica de descolados/desescolarizados sobre a vida dos pobres.

“Classe média”, sim; “escolarizada”? Sim. Mas não esclarecida. Até aferrada a alguns valores da chamada modernidade, mas doentiamente mergulhada, aguilhoada, em formas de pensar e agir socialmente equivalentes ao tempo da treva e da servidão. Por exemplo: tem raiva de ver pobre comendo; com uma roupinha mais na moda; comendo uma pizza com a família... Num shopping? Essa “classe média” que se acha a tal fica roxa de raiva de v. pobre e pardo andando nesse ambiente.

Há gente mais “equivocada” que essa? Sempre é possível: os que se fazem servos voluntários dessa ideologia esquisita liberal-escravista. E quem foi mesmo que falou em neovideotas? webfascistas?

Será outro o Brasil em que alguém não seja pobre por que trabalha.

Fonseca Neto é historiador, escritor, professor, advogado e membro da Academia Piauiense de Letras. É natural de Passagem Franca - Maranhão.