Reflexão Bíblica: UMA CRUZ PARA MIM IV

ELIAS MUNIZ DE DEUS


          “... Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa, em fadigas obterás dela o sustento durante os dias da tua vida.” Gn. 3 v 17.

          Uma vez examinado as implicações da cruz na vida das pessoas ficou muito claro que cada um tem a sua, e que apesar de não ser permutável a cruz pode ser suportada dentro  do propósito de vida, definido por Jesus nos três passos da conversão, a saber: Negar –se a si mesmo; Tomar a Cruz; e Segui-lo.

        De modo geral questionam muitos que a reafirmação da cruz na continuidade da vida humana se transformou num paradoxo, um elemento aparentemente sem sentido diante da pregação adotada pela igreja cristã nos dois milênios de sua existência, veja bem! Tem se afirmado que o suplício de Jesus sob a maldição da cruz do Calvário, ele o sofreu em substituição a todos os homens, em todos os tempos, sobre a terra. Logo se houve substituição, se efetivamente ele tomou o seu e o meu lugar na cruz, então! Como justificar a inserção da cruz de cada um nesta jornada nossa de cada dia SEGUINDO os seus passos dolorosos? Se realmente Cristo se fez nossa substituição; como discernir a verdade, entre a gravidade da mensagem evangélica que nisto insiste e a inutilidade da mesma cruz, segundo os movimentos “neo” ou “new” qualquer coisa que dela desistem, mas crescem como erva daninha neste mundo cristão?  Entretanto sabemos que os tais (movimentos) negam tanto a necessidade da cruz, quanto a eficácia dos seus efeitos na redenção de vidas no presente e no futuro, posto que, essa cruz apresentada no evangelho, ela mesma precisa se integrar ao corpo do seguidor como parte do seu próprio ser, pois diz: ‘Aquele que quiser vir após mim, negue-se, tome a sua cruz e siga-me.”  Temos com isso, em primeiro momento, a impressão de que simplesmente os pregadores tem manipulado  duas afirmações que se contrariam respectivamente:

1° - Fomos todos substituídos por Jesus na Cruz;
2° - Para seguir a Jesus, cada um tome a sua própria cruz.

       Temos que carregar a própria cruz, afirma a segunda questão enquanto a primeira assevera a nossa substituição, temos uma contradição?  De modo nenhum, pelo contrário, as duas afirmações se completam e são necessárias para depurar a verdade. Se a verdade não prevalecer sobre a possível manipulação, então os movimentos se confirmarão pela anulação do ensino bíblico, mas se a verdade substancia a evidência da Bíblia, então temos um dilema que precisa ser resolvido e esclarecido, apesar de que; dilemas são todos subjetivos, este, entretanto pode objetivamente trazer luzes sobre algumas facetas da realidade conhecida, e aceitas com muita naturalidade, nos meios religiosos mais representativos deste começo de milênio. Uma destas facetas mais visíveis é a chamada fé relativa, o tipo de fé que mais cresce nos arraiais gospeis, e que está levando a maioria dos declarados cristãos hoje, à possibilidade de uma religião pessoal e essencialmente formal, uma religiosidade solitária que até dispensa o relacionamento com qualquer coisa que se chame igreja, e muito menos com a cruz essencial. Eles formam o grupo dos sem igreja, um grande contingente de pessoas que se declara crente, mas não se liga a nenhuma igreja organizada. A existência deste segmento e a forma como a fé recebe tratamento de marketing religioso, para ser um produto pronto para atender a demanda criada pela proliferação de cultos e igrejas que paulatinamente se adequaram à diversidade de pessoas que não tem fé, mas, apostam no sobrenatural, para não ficar a descoberto no mundo material. Isto aliado à descaracterização dos ensinos bíblicos intragrupos, vem ensejar a situação que nos coloca de frente para o fenômeno de maior gravidade nestes dias, entrarmos em contato com o novo cristianismo, não por ser novo, mas pelo apelo humanista recauchutado afirmativo de que o homem é bom por sua natureza e que a redenção deste só depende dele mesmo, tudo isso sem abrir mão da religião cristã, porém com a rejeição da maioria das doutrinas, assim como do seu autor (Jesus).    

         Descobrimos aqui outra face da realidade, da qual nem desconfiávamos a possível existência de um cristianismo sem Cristo. Um conjunto de modos e crenças que em tudo se assemelha ao cristianismo, todavia dele é divorciado por não admitir a necessidade de Cristo como salvador. Neste intervalo, entre um e outro interesse ou comportamento tudo vai se transformando em mera religiosidade. Mas as realidades já expostas nestes tópicos nos habilitam agora a separar o falso do verdadeiro, pois se a sua religião, que para você é muito séria e intocável em seus preceitos, bem! Se ela servir apenas para canalizar, em seu favor, os benefícios materiais creditados como resultado da morte de Jesus, de modo que os tais benefícios estejam disponibilizados como uma espécie de mercadoria imaterial que pode ser adquirida em troca de promessas, de uma ritualística, ou por aquisição legítima em dinheiro. E se é assim, que você reage ao apelo religioso, que muitos chamam de fé, então pode ter certeza, você efetivamente não foi substituído na cruz, Não porque Jesus não tenha se oferecido por você, mas porque de modo particular você não se permitiu substituir. E muitos são os motivos que lhe impedem aceitar a tal substituição; coisas como o orgulho, a ilusão mundana, a descrença sobre a eternidade, o apego às coisas materiais e por fim a própria recusa da cruz. Tal situação, até pode lhe propiciar insistir nos questionamentos quanto à nulidade da cruz para estritamente justificar os desvios já consolidados em sua vida, mas isso não abalará a seriedade do que se está afirmando ao reiterarmos a inserção da cruz, haja vista que tomar a própria cruz é imprescindível, Jesus assim exige. Então se a isto todos estão submetidos, não há escolha, e se não tem saída, então Jesus e suas exigências quanto a carregar a cruz precisam ser levados a sério, até as últimas consequências. Depreendemos do que já vimos que não há qualquer possibilidade de alguém recusar o sacrifício de Jesus, e mesmo assim adquirir méritos pessoais que redundem nos mesmos resultados assegurados no calvário. Este caminho é muito penoso e solitário, mas se porventura assegurasse o mesmo que Jesus conseguiu seria muito bom, infelizmente não é assim, pois quando Jesus diz: “Toma a tua cruz e segue-me” – ele está querendo, não só que você entenda, mas que também internalize que a cruz que o levou a morte não era dele, era a sua cruz, e sobre a qual você deveria ter morrido, contudo você permaneceu vivo enquanto Jesus morreu em seu lugar. Deu para entender? Neste interregno Jesus está dizendo: “Esta cruz é tua, mas eu a tomo para mim, essa morte que me mata agora é a tua morte, mas eu morro em teu lugar, esta vida que agora eu entrego é minha, mas tu que não tens vida que te mantenha, eu te garanto que não morras mais, pela vida que te dou. Esta disposição de Jesus é intrigante exatamente porque nos escapa entender a profundidade do que está envolvido nas implicações amorosas do relacionamento do santo com o pecador, relação esta que impõe humilhação ao santo para levar a exaltação do homem, apesar de pecador. Sendo que Jesus se humilha até a morte na cruz para na maior e mais sublime declaração de amor dizer: “Eu sofri a morte e a maldição que eram tuas na cruz que também é tua, mas venci agora eu te convido a vir comigo, mas para isso tu tens que me receber e ao receber-me, também estás recebendo a tua cruz para comigo prosseguir a jornada, porque eu e a tua cruz nos tornamos um, como semelhantemente ao me aceitares, eu contigo também seremos um.” E neste exato instante podemos perceber que já não há antagonismo entre o que se propôs ser o substituto e o que exige condições para ser seguido, ele, somente ele teve sabedoria divina para realizar este milagre. Reverter a maldição original em salvação real através do sacrifício do seu corpo em nosso lugar.

           “Daí que todo homem precisa agora conhecer a Deus, examinando o que Ele mesmo fala de si em sua própria palavra, a Bíblia.”

ELIAS MUNIZ DE DEUS
Acadêmico de Teologia FAEPI
E membro da ICE PENIEL em Teresina (PI)