“... Visto que atendeste a voz de tua
mulher e comeste da árvore que te ordenara não comesses, maldita é a terra por
tua causa, em fadigas obterás dela o sustento durante os dias da tua vida.” Gn.
3 v 17.
Uma vez examinado as implicações da
cruz na vida das pessoas ficou muito claro que cada um tem a sua, e que apesar
de não ser permutável a cruz pode ser suportada dentro do
propósito de vida, definido por Jesus nos três passos da conversão, a saber:
Negar –se a si mesmo; Tomar a Cruz; e Segui-lo.
De modo geral questionam muitos que a
reafirmação da cruz na continuidade da vida humana se transformou num paradoxo,
um elemento aparentemente sem sentido diante da pregação adotada pela igreja
cristã nos dois milênios de sua existência, veja bem! Tem se afirmado que o suplício
de Jesus sob a maldição da cruz do Calvário, ele o sofreu em substituição a
todos os homens, em todos os tempos, sobre a terra. Logo se houve substituição,
se efetivamente ele tomou o seu e o meu lugar na cruz, então! Como justificar a
inserção da cruz de cada um nesta jornada nossa de cada dia SEGUINDO os seus passos
dolorosos? Se realmente Cristo se fez nossa substituição; como discernir a
verdade, entre a gravidade da mensagem evangélica que nisto insiste e a
inutilidade da mesma cruz, segundo os movimentos “neo” ou “new” qualquer coisa
que dela desistem, mas crescem como erva daninha neste mundo cristão? Entretanto sabemos que os tais (movimentos)
negam tanto a necessidade da cruz, quanto a eficácia dos seus efeitos na
redenção de vidas no presente e no futuro, posto que, essa cruz apresentada no
evangelho, ela mesma precisa se integrar ao corpo do seguidor como parte do seu
próprio ser, pois diz: ‘Aquele que quiser vir após mim, negue-se, tome a sua
cruz e siga-me.” Temos com isso, em
primeiro momento, a impressão de que simplesmente os pregadores tem manipulado duas afirmações que se contrariam
respectivamente:
1°
- Fomos todos substituídos por Jesus na Cruz;
2°
- Para seguir a Jesus, cada um tome a sua própria cruz.
Temos que carregar a própria cruz,
afirma a segunda questão enquanto a primeira assevera a nossa substituição,
temos uma contradição? De modo nenhum,
pelo contrário, as duas afirmações se completam e são necessárias para depurar
a verdade. Se a verdade não prevalecer sobre a possível manipulação, então os
movimentos se confirmarão pela anulação do ensino bíblico, mas se a verdade
substancia a evidência da Bíblia, então temos um dilema que precisa ser
resolvido e esclarecido, apesar de que; dilemas são todos subjetivos, este,
entretanto pode objetivamente trazer luzes sobre algumas facetas da realidade
conhecida, e aceitas com muita naturalidade, nos meios religiosos mais
representativos deste começo de milênio. Uma destas facetas mais visíveis é a
chamada fé relativa, o tipo de fé que mais cresce nos arraiais gospeis, e que está
levando a maioria dos declarados cristãos hoje, à possibilidade de uma religião
pessoal e essencialmente formal, uma religiosidade solitária que até dispensa o
relacionamento com qualquer coisa que se chame igreja, e muito menos com a cruz
essencial. Eles formam o grupo dos sem igreja, um grande contingente de pessoas
que se declara crente, mas não se liga a nenhuma igreja organizada. A
existência deste segmento e a forma como a fé recebe tratamento de marketing religioso,
para ser um produto pronto para atender a demanda criada pela proliferação de
cultos e igrejas que paulatinamente se adequaram à diversidade de pessoas que
não tem fé, mas, apostam no sobrenatural, para não ficar a descoberto no mundo
material. Isto aliado à descaracterização dos ensinos bíblicos intragrupos, vem
ensejar a situação que nos coloca de frente para o fenômeno de maior gravidade
nestes dias, entrarmos em contato com o novo cristianismo, não por ser novo,
mas pelo apelo humanista recauchutado afirmativo de que o homem é bom por sua
natureza e que a redenção deste só depende dele mesmo, tudo isso sem abrir mão
da religião cristã, porém com a rejeição da maioria das doutrinas, assim como
do seu autor (Jesus).
Descobrimos aqui outra face da
realidade, da qual nem desconfiávamos a possível existência de um cristianismo
sem Cristo. Um conjunto de modos e crenças que em tudo se assemelha ao
cristianismo, todavia dele é divorciado por não admitir a necessidade de Cristo
como salvador. Neste intervalo, entre um e outro interesse ou comportamento
tudo vai se transformando em mera religiosidade. Mas as realidades já expostas
nestes tópicos nos habilitam agora a separar o falso do verdadeiro, pois se a
sua religião, que para você é muito séria e intocável em seus preceitos, bem! Se
ela servir apenas para canalizar, em seu favor, os benefícios materiais creditados
como resultado da morte de Jesus, de modo que os tais benefícios estejam
disponibilizados como uma espécie de mercadoria imaterial que pode ser
adquirida em troca de promessas, de uma ritualística, ou por aquisição legítima
em dinheiro. E se é assim, que você reage ao apelo religioso, que muitos chamam
de fé, então pode ter certeza, você efetivamente não foi substituído na cruz,
Não porque Jesus não tenha se oferecido por você, mas porque de modo particular
você não se permitiu substituir. E muitos são os motivos que lhe impedem
aceitar a tal substituição; coisas como o orgulho, a ilusão mundana, a
descrença sobre a eternidade, o apego às coisas materiais e por fim a própria
recusa da cruz. Tal situação, até pode lhe propiciar insistir nos
questionamentos quanto à nulidade da cruz para estritamente justificar os
desvios já consolidados em sua vida, mas isso não abalará a seriedade do que se
está afirmando ao reiterarmos a inserção da cruz, haja vista que tomar a
própria cruz é imprescindível, Jesus assim exige. Então se a isto todos estão
submetidos, não há escolha, e se não tem saída, então Jesus e suas exigências
quanto a carregar a cruz precisam ser levados a sério, até as últimas
consequências. Depreendemos do que já vimos que não há qualquer possibilidade
de alguém recusar o sacrifício de Jesus, e mesmo assim adquirir méritos
pessoais que redundem nos mesmos resultados assegurados no calvário. Este
caminho é muito penoso e solitário, mas se porventura assegurasse o mesmo que
Jesus conseguiu seria muito bom, infelizmente não é assim, pois quando Jesus
diz: “Toma a tua cruz e segue-me” – ele está querendo, não só que você entenda,
mas que também internalize que a cruz que o levou a morte não era dele, era a
sua cruz, e sobre a qual você deveria ter morrido, contudo você permaneceu vivo
enquanto Jesus morreu em seu lugar. Deu para entender? Neste interregno Jesus
está dizendo: “Esta cruz é tua, mas eu a tomo para mim, essa morte que me mata
agora é a tua morte, mas eu morro em teu lugar, esta vida que agora eu entrego
é minha, mas tu que não tens vida que te mantenha, eu te garanto que não morras
mais, pela vida que te dou. Esta disposição de Jesus é intrigante exatamente
porque nos escapa entender a profundidade do que está envolvido nas implicações
amorosas do relacionamento do santo com o pecador, relação esta que impõe
humilhação ao santo para levar a exaltação do homem, apesar de pecador. Sendo
que Jesus se humilha até a morte na cruz para na maior e mais sublime
declaração de amor dizer: “Eu sofri a morte e a maldição que eram tuas na cruz
que também é tua, mas venci agora eu te convido a vir comigo, mas para isso tu
tens que me receber e ao receber-me, também estás recebendo a tua cruz para
comigo prosseguir a jornada, porque eu e a tua cruz nos tornamos um, como
semelhantemente ao me aceitares, eu contigo também seremos um.” E neste exato
instante podemos perceber que já não há antagonismo entre o que se propôs ser o
substituto e o que exige condições para ser seguido, ele, somente ele teve
sabedoria divina para realizar este milagre. Reverter a maldição original em
salvação real através do sacrifício do seu corpo em nosso lugar.
“Daí que todo homem precisa agora
conhecer a Deus, examinando o que Ele mesmo fala de si em sua própria palavra,
a Bíblia.”
ELIAS MUNIZ DE DEUS
Acadêmico de Teologia FAEPI
E membro da ICE PENIEL em Teresina (PI)