Dilma: mídia brasileira assumiu uma atitude golpista

Brasília - DF, 20/04/2016. Presidenta Dilma Rousseff durante entrevista para blogueiros no Palácio do Planalto. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR


(Queridos leitores e leitoras, a entrevista de hoje com Dilma fica valendo pela análise de conjuntura. A foto acima é de Roberto Stuckert Filho.)

Tranquila e bem humorada, apesar das circunstâncias dramáticas que a cercam. Assim posso descrever a presidenta Dilma Rousseff, durante a entrevista concedida a nove blogueiros.

E, no entanto, profundamente lúcida sobre a violência de que não somente ela é vítima, mas o próprio sistema democrático.

A presidenta foi muito dura com os que ela chamou de conspiradores, especialmente com seu vice, Michel Temer. Nunca se viu, disse a presidenta, no mundo ocidental, um caso tão torpe de traição de um vice contra um presidente da república de sua mesma chapa eleitoral, tentando usurpar o poder ao qual não tem direito, porque não teve votos.

Dilma repetiu diversas vezes que está disposta a lutar até as últimas consequências por seu mandato.

Seus adversários não terão vida fácil. Dilma deixou bem claro que dedicará sua vida a pespegar, na testa de cada um dos conspiradores, a pecha de golpistas.

Caso seja afastada ao fim de maio, após a aprovação do impeachment no Senado por maioria simples, Dilma disse que, mesmo assim, continuará presidenta da república, até porque a sua situação política e jurídica é dúbia.

A presidenta agradeceu aos brasileiros que lutam pela legalidade e os incentivou a continuarem nas ruas, lutando para o restabelecimento da normalidade democrática.

O Brasil apenas encontrará solução para seus problemas, disse a presidenta, dentro dos marcos da democracia.

Os blogueiros que entrevistaram a presidenta foram: Renato Rovai (Forum), Laura Capriglione (Jornalistas Livres), Hilda (Rede Brasil Atual), Paulo Moreira Leite (Brasil 247), Eduardo Guimarães (blog da Cidadania), Kiko Nogueira (DCM), Miguel do Rosário (Cafezinho) e Stephanie Ribeiro (Blogueiras Negras).

Eu preparei duas perguntas bem duras para a presidenta, porque pensei que a crise profunda que vivemos pede um enfrentamento mais direto dos problemas.

Eu fiz a seguinte pergunta a ela:


Queria um comentário sobre a concentração da mídia brasileira e sobre as terríveis consequências que este desequilíbrio traz, como os fatos recentes comprovam, tragicamente, mais uma vez, à nossa democracia.

Já houve denúncias da comissão para liberdade de expressão da ONU, e a ong Repórteres Sem Fronteiras sempre menciona o problema da concentração da mídia brasileira em seus relatórios anuais.

O que vemos no Brasil é a mais grave e abjeta concentração de mídia em todo o mundo democrático. Setores expressivos da população, em especial a intelectualidade, a juventude, academia, além de todos os movimentos sociais, têm denunciado diuturnamente a participação do monopólio da mídia na articulação do golpe.

Ocorreram centenas, quiça milhares de manifestações no Brasil e no mundo denunciando o golpe em curso, que é considerado essencialmente midiático. Os cartazes mais frequentes nessas manifestações trazem referências à Globo. Por que golpe midiático ? Porque, dentre outras artimanhas, a mídia diminui, ou simplesmente omite, as manifestações pela legalidade e aumenta as manifestações golpistas. Com isso ela influencia o parlamento e o judiciário e intervém na democracia.

Em sua resposta, Dilma disse que o oligopólio da mídia, sobretudo de um ano para cá, assumiu uma "atitude golpista". E que ele tem endereço certo (pensei que ela fosse mencionar certo endereço em Paraty...).

A presidenta deixou claro que é a favor da regulamentação da mídia, para brecar a concentração dos meios de comunicação, mas que escolheu não fazer esta guerra em sua segunda gestão, porque não viu chance dela passar no congresso. Ela ressalta que pretendia trazer para o Brasil uma regulamentação parecida a que existe nos Estados Unidos e Europa, que veta a propriedade cruzada e limita a concentração dos meios.

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