Ainda há razão para ufanar-me de meu país?


João Batista Rodrigues de Andrade/Advogado tuntunense/São Paulo


1. Nesta manhã de sol de outono leio os noticiários eletrônicos e tenho a sensação de que estamos prestes a entrar numa fase aguda da crise política e moral, mas não porque a carne seja fraca, mas porque o Poder Judiciário está politizado e promove ataques a instituições e pessoas: Gilmar Mendes, cuja função que exerce deve ser preservada de tudo e de todos, sabendo-se que sob sua toga deve afluir a Justiça, silencia quando se lhe interessa, e cobra ações quando o seu grupo político se vê fracassado, quando sua gentalha está prestes a ser desmascarada... Quando Lula esteve a um passo da prisão, pelo espetáculo mágico de Sérgio Moro, ajudado pelo seu fiel escudeiro, o procurador da República Daltan Dallagnol, ignorou. E mais: suspendeu a posse de Lula na condição de ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff. Agora, quando a Procuradoria-Geral da República oferece pedidos de abertura de inquéritos contra a sua turma, ele se zanga e pede ações contra a Procuradoria, vale dizer: quer um basta às ações do Ministério Público Federal. Nunca soube ele que juiz só deve falar nos autos processuais. Ele é tosco, maquiavélico e despreparado para exercer a função de juiz da Corte Suprema do Brasil. 

2. Sérgio Moro, por sua vez, que mais parece integrante da ‘ala das baianas’ de escola de samba, tão ávido para se mostrar paras as câmeras, agora vestiu a fantasia de ditador judicial: mandou buscar sob vara o blogueiro Eduardo Guimarães para ter-se consigo, em interrogatório, além de apreender seus instrumentos de trabalho. Tudo isso às escâncaras, porque ignorou a Constituição da República, a fim de tirar barato de seu desafeto no Conselho Nacional de Justiça (no qual tramita uma representação contra si feita pelo blogueiro). Até, e só por isso, deveria julgar-se sob suspeição. Mas num país de bundão, no qual a maioria dos políticos é corrupta, o que dizer? 

3. Quando do episódio da condução coercitiva de Lula, sob ordens do juiz Sérgio Moro, sabe-se que havia uma arrumação maior para promover a queda de Dilma Rousseff e mesmo de ser instalada uma nova ditadura, porquanto fosse certo que Lula haveria de ser mandado para Curitiba e à presença de Sérgio Moro, e só não o foi porque apareceu, pasmem, um militar aeronáutico legalista, que cercou o jato da PF e disse, ao que se infere: daqui ninguém decola!

4. Hoje se discute se a Carne é Fraca à medida que o povo vai esquecendo da reforma da Previdência, e a TV Globo e os milhares de seguidores pós-Hitler, dão o maior apoio aos frigoríficos sob o pífio argumento de que o Brasil é o maior exportador, que a nossa economia pode sofrer um baque de R$ 15 bilhões de dólares, que o desemprego no setor será enorme. Tudo isso é bobagem se uma única pessoa morrer pelo consumo de carne estragada. Nós sabemos como são feitas as salsichas: igualzinho à feitura das leis: um horror! 

5. Num país em que Kim Kataguiri, Fernando Holliday e Bolsonaro são líderes; num país em que uma estação de TV noveliza a política do interesse de seus partidos e partidários e realiza uma festa à ocasião do impeachment de Dilma Rousseff; num país em que a elite consegue mandar e desmandar, e isso desde Tomé de Souza; num país que constitucionaliza o direito à Festa de Vaquejada é porque, paciência, ainda não tem consciência de sua grandeza e da Nação que é para o mundo.

6. Michel Temer, a Moça, parece mais um brinquedo de corda, que anda apenas um pouco, e em seguida deve-se repetir a corda para que ande novamente. Vem à TV com frequência, sempre bem engomado e brilhantinado, mas com o mesmo discurso: a economia deu sinais de recuperação; o emprego está voltando; as instituições estão funcionando; o país retoma o crescimento; estou fazendo reformas corajosas... bla-bla-bla... Ora, Michel, o que há com você: foi professor de direito constitucional e virou golpista; durante anos liderou o PMDB no quesito “propina”; aliou-se ao PT, mas conspirava contra o governo de Dilma Rousseff; mantinha um casamento fiel com Eduardo Cunha, mas depois o traiu também; vai a restaurante para apaziguar a crise da Carne Fraca, mas refastela-se com picanha importada... Não seria melhor você pedir para ir ao toalete e sair de fininho? 

7. O povo brasileiro tem consciência de nossa grandeza, e sabe que as elites são podres, e de falsas glórias, não é Duque de Caxias: ganhou o quê, velho? A Balaiada? A Guerra do Paraguai? Hahahahaha! Caminhamos para o fim da ética e da moral, do retorno da violência da Idade Média, mas ainda há, enquanto houver um único homem honesto, esperança de outros outonos ou alguma razão para que possamos nos ufanar de nossa Nação. Façamos por merecer e mereçamos!