Randolfe retira pré-candidatura e defende nome de Marcel Freixo para presidente

Najla Passos
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Brasília - O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) retirou a sua pré-candidatura à presidência da república em carta encaminhada à militância no início da noite desta sexta (13). A pré-candidatura foi aprovada novembro passado, em meio a muita polêmica e divisão interna. E, desde lá, ele não conseguiu sequer pontuar nas pesquisas de intenções de voto. 

Em nota divulgada na noite de sexta-feira (13), a direção do PSOL afirmou que sua opção representa um prejuízo na construção de uma alternativa de esquerda nestas eleições. “Nossa tarefa é apresentar um programa de mudanças sociais reivindicadas pelo povo brasileiro que ocupou as ruas em junho passado, cujas demandas não encontram guarida nas candidaturas dos partidos da ordem”, diz o documento.

O partido apontou o nome da então candidata à vice-presidente, Luciana Genro, como sucessora natural para disputar o cargo. Mas deixou claro que a decisão só será oficializada na convenção nacional que será realizada nos dias 21 e 22/6, em Brasília.

Randolfe, porém, defende que seja lançado o nome de Marcelo Freixo, o deputado carioca que, segundo ele, é o único nome capaz de unificar o partido e representar, de fato, uma alternativa da esquerda para o país.

À Carta Maior, o senador disse também que, muitas vezes, prevalece no partido a logica do cargo, já que, se candidatando à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Freixo tem condições de puxar outros deputados da sigla. “Mas isso é a pequena política”, observou Randolfe. 

Carta Maior - Por que o senhor retirou sua candidatura à presidência?

Randolfe Rodrigues - Às 18 horas de hoje, eu encaminhei uma carta aos militantes do PSOL na qual explico as razões da retirada da minha candidatura. Na carta, em síntese, eu faço uma análise do momento que o Brasil vive agora, em que as forças progressistas estão divididas. Também faço a análise das três candidaturas colocadas, em que o debate não se dá em torno de ideias, mas de acusações mútuas. E avalio que, em função disso, a sociedade brasileira se sente órfã, o que aprofunda o sentimento de abandono e faz crescer a ofensiva conservadora. E isso ocorre porque faltam no processo eleitoral lideranças capazes de falar em nome da nação. E falta, por parte da esquerda, a capacidade de se renovar, de estar à altura das tarefas que o Brasil de hoje exige.

Lamentavelmente, essa leitura incorreta do sentimento do povo e da indignação que explodiu nas ruas do Brasil na jornada de junho levou a esquerda programática a acreditar que iria sair de 2013 em uma avenida de oportunidades. E agora, é necessário que a esquerda tenha a humildade de reconhecer, de fazer a autocrítica que os eleitores estão céticos em relação às direções partidárias, aos partidos políticos e aos movimentos.

CM - Mas essa atitude não prejudica ainda mais o seu partido?

RR - O PSOL tem que pensar grande. E eu quero começar fazendo a minha autocrítica, porque minha candidatura não esteve à altura de reunir a esquerda, nem mesmo de conquistar o próprio PSOL. E, por isso, eu retiro a candidatura. Eu acredito que, neste momento, o nome do Marcelo Freixo é o único capaz de unificar o partido.

CM - Existe alguma divergência entre o senhor e o Freixo?

RR - A única divergência é que ele acha que deve ser candidato à deputado estadual e eu acho que ele é a principal liderança política do partido e que deveria liderar o partido na sucessão presidencial. Eu acho que o PSOL deveria deixar de ser pequeno e se tornar grande em 2014, fazendo a grande renovação da política brasileira, por meio do grande debate com a principal liderança do partido, que é o Freixo.

CM - Sua candidatura, então, foi um erro. Do senhor? Do partido? De ambos?

RR - Não. Eu acho que o Marcelo deveria ter assumido esta responsabilidade desde o ano passado. Eu, inclusive, propus isso a ele, que não topou. Nos bastidores do partido, internamente no partido, todo mundo fala isso. Só que ninguém fala publicamente. Então, eu resolvi falar publicamente.

CM - E quais seus planos agora? Continua no Senado ou pretende assumir alguma outra candidatura?

RR - Eu deixo de ser candidato, mas continuo no Senado. Não deixo de estar na política. Não deixo de fazer os debates da política. A minha retirada é para fazer à autocrítica e para pedir que a esquerda faça à autocrítica. Eu vou estar na campanha da Luciana Genro. Mas eu acho que o PSOL poderia oferecer para o Brasil uma oportunidade de chacoalhar o cenário político se apresentasse o nome do Marcelo. Com ele, nós mudaríamos o cenário político de 2014 e daríamos uma chacoalhada nesta ofensiva conservadora. 

CM - O PSOL não sabe fazer autocrítica?

RR - O PSOL tem que aprender com a revolução francesa, com Danton: audácia, audácia e audácia. Eu sei que prevalece muitas vezes uma lógica do ‘se o Marcelo sair para deputado estadual, nós vamos ganhar cinco cargos na Assembleia’. Tudo bem, mas isso é a pequena política. Às vezes é necessário, com a história, fazer a grande política.

Carta Maior