O coração do pernambucano José Rico falhou e seus fãs emudeceram.
Tristeza enorme de canto a canto do país. Por décadas, Zé formou
parceria com o mineiro Milionário, de batismo Romeu Januário de Matos. A
dupla vendeu milhões de discos no Brasil e no exterior. Os dois fizeram
sucesso até na China.
Rico e Milionário eram, na convivência em comum, que nem cão e gato:
muito diferentes entre si, brigavam à toa como se gostassem disso, tanto
que comumente subiam ao palco irritados, nervosos, sem se preocuparem
com o que os fãs pudessem, eventualmente, achar.
Conheci José Rico no começo dos anos 1990, quando eu e Rolando Boldrin
fomos chamados pela Warner/Continental para viabilizar a coleção Som da
Terra. O Boldrin pulou fora e me coube a tarefa de escrever os textos
dos encartes. Milionário e José Rico não entraram na coleção porque para
a dupla pensou-se em fazer uma caixa especial. O projeto ficou muito
bonito, mas não foi lançado. Ainda guardo esses originais.
A história de José Rico é uma história bastante comum entre pessoas
aspirantes à glória pela via musical. Nasceu pobre, comeu o pão que o
diabo amassou, até trocar o Paraná, onde se criou, pela capital
paulista. Aqui conheceu Romeu, que virou Milionário, o seu grande
parceiro, com quem logo gravou para o selo Continental/Chantecler, em
1973, algumas músicas que rapidamente ganharam o gosto popular, entre as
quais "De Longe Também Se Ama" dele e de Jair Silva Cabral e "Paraná
Querido" de Paulinho Gama e Goiá.
A dupla Milionário e José Rico –separada algumas vezes em decorrência
das brigas– fez parte da penúltima leva de "caipiras" em disco.
A primeira fase sertaneja teve início com o tieteense Cornélio Pires,
que entre 1929 e 1930 produziu, de modo independente, 52 discos de 78
voltas. A segunda fase começa nos anos de 1950 e vai até o começo de
1960, quando a dupla Leo Canhoto e Robertinho, ao modo dos caubóis
americanos, passa a fazer sucesso cantando à moda country, com
acompanhamento de guitarras. E hoje é o que se vê.
Folha de São Paulo