Desenvolver é abrir estradas




Vista área de Tuntum - Maranhão


Por Jean Carlos Gonçalves*

“Governar é abrir estradas”.

A frase emblemática acima foi o lema da campanha presidencial de Washington Luís (1926-1930), quando o presidente quis sintetizar seu cronograma de governo. A mesma poderia ser assim interpretada: “Desenvolver é abrir estradas”.

Por essa mesma época dirigia o Maranhão, o governador Magalhães de Almeida, que com apoio do Governo Federal construiu a primeira estrada ligando a capital do estado ao centro-maranhense.

O município de Tuntum que apesar de sua extensão geográfica até poderia possuir outras vias rodoviárias interestaduais, porém, infelizmente é cortado somente pela BR-226, que liga a cidade de Natal (RN), ao município de Wanderlândia (TO). Ao longo de todo o seu percurso, passa pelos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão e Tocantins. A extensão total da rodovia é de 1674,6 km. A mesma passa a 10 km do centro comercial de nossa cidade, o que inibe bastante o seu crescimento econômico.

Construída na década de 1950, para melhor integrar o centro-maranhense a outras regiões do estado e do país, a 226 naturalmente liga importantes centros do interior do Maranhão, como Presidente Dutra, Barra do Corda e Grajaú entre outras. Indiscutivelmente, tais não gozariam de uma economia mais dinâmica sem a rodovia. Por outro lado, as cidades da região que tiveram a desventura de não serem contemplados com uma rodovia interestadual têm seu desenvolvimento econômico retardado, comprometido e aí se inclui Tuntum. Evidentemente, que esse não é o único fator, entretanto, a construção de estradas é condição básica para a dinamização econômica dessas pequenas urbes interioranas.

Quando ainda era povoado, Tuntum estava ligado a Presidente Dutra por uma antiga estrada carroçal, cujo percurso era mais breve e seu prolongamento também ligava a Barra do Corda. O trajeto era: Presidente Dutra – Canafístula – Tuntum de Cima – Canto Bom – Lagoa D’anta – Coco dos Mecenas – Cigana – Cipó – Dois Irmãos – Riacho Feio – Barra do Corda. Assim, desse modo surge uma pergunta natural: Por que a atual BR-226 foi construída por outro percurso? Ou, mesmo, por que a obra não seguiu o itinerário já existente?

Está impregnada no imaginário coletivo a idéia de que coube ao prefeito Ariston Leda (1959-1963) a “proeza” de não aceitar que a nova estrada passasse pela sede municipal, sob a justificativa de que atrairia violência e criminalidade à cidade. De tão consolidada, poderia considerar até uma insanidade contestar tal “verdade”, mas como o ato de conhecer consiste em questionar as nossas “certezas”, passei a refletir sobre a questão, passei a investigar sobre o problema. Consegui, pelo menos, até então, um contra ponto. Conversando com algumas pessoas que viveram aquela época descobri outra versão: a empresa responsável pela construção da estrada realizou um estudo no qual ficou constatado que o projeto mais viável seria o que fora executado, visto que reduziam gastos, diminuía o percurso e o roteiro não contava muitos acidentes geográficos. Isso é fato, a trajeto atual não conta com muitas pontes. Entendo que outras razões, podem está por traz dessa medida política. Provavelmente, os governantes e a elite econômica das cidades vizinhas podem ter motivado o projeto, pois poderiam sentir seus interesses ameaçados pela concorrência da então recém emancipada e promissora Tuntum. Todavia, a questão merece ser mais bem investigada.

Em todo caso, o que importa é que a cidade de Tuntum tem sua economia prejudicada, visto que praticamente só conta com uma via de acesso.

Um município com uma forte vocação para agropecuária desde o início de sua formação assiste um intenso fluxo migratório de seus filhos para outras cidades e estados. Processo inverso ao de seus antepassados, quando para cá vieram atraídos pelas condições favoráveis dessa aprazível terra.

Em Tuntum não se assiste investimentos em suas forças produtivas. É pífia a geração de emprego e renda. Estou convencido, portanto, que o Eldorado, dos antigos retirantes afugentados pelas periódicas secas nos demais estados nordestinos, indubitavelmente deixou de ser para os seus descendentes dessa parte da Mata do Japão.



* Jean Carlos Gonçalves é professor de História da rede pública estadual do Maranhão (ensino médio) e do município de Santa Filomena do Maranhão - MA (fundamental II). Especialista em Metodologia do Ensino e da Pesquisa em História do Brasil e Geografia e História do Maranhão.