O professor e poeta tuntunense assumiu, no último dia 22(quinta-feira) a cadeira 17 da Academia Piauiense de Poesia (ACAPP) no auditório Torquato Neto do Clube dos Diários centro de Teresina.
Também assumiram novas cadeiras na ACAPP Rosângela Sousa e Cláudia Simone.
Emerson Araújo foi saudado na sessão magna de posse da ACAPP no Clube dos Diários pelo atual presidente, Dermeval Silva, pela artista plástica Dora Medeiros e pelo médico e vice-presidente Dr. José Itamar Abreu Costa que enfatizaram a importância dos novos empossados naquela instituição a partir daquele ato.
Emerson Araújo assumiu a cadeira 17 da ACAPP cujo patrono é o poeta e sociólogo amarantino Clóvis Moura a quem o novo empossado fez elogiosas considerações no discurso de posse.
Estiveram acompanhando o novo acadêmico Emerson Araújo na posse da ACAPP a esposa Mônica Almeida, o filho Francisco de Araújo Silva, a irmã Íria Fernanda Silva e a sobrinha Cibele Silva.
Veja o discurso proferido por Emerson Araújo na posse da ACAPP:
Discurso de Posse na Academia
Piauiense de Poesia ACAPP
Cadeira 17 - Patrono:
Poeta Clóvis Moura
Boa
Noite a Todas e Todos
Senhor
Presidente,
Senhoras
e Senhores Acadêmicos da ACAPP
Colegas
Acadêmicas Rosângela Sousa e Cláudia Simone que tomam posse nesta noite,
Senhoras
e Senhores,
É com imensa alegria que assumo uma
cadeira na Academia Piauiense de Poesia nesta noite. Digo isso, também, movido por uma profunda e real emoção indefinida
ao ter como patronesse/patrono, neste
assento, a presença imortal do poeta
piauiense/amarantino Clóvis Moura.
Clóvis Steiger de Assis Moura,
a quem rendo profícuas homenagens, nesta noite, nasceu na cidade de
Amarante em 1925 e faleceu em São Paulo em 2003. Foi sociólogo, historiador,
jornalista e escritor, tendo iniciado sua trajetória intelectual em 1959 com “Rebeliões da
senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas” ensaio sobre a Sociologia da Práxis Negra modulação teórica de toda a
sua trajetória intelectual sob a égide do marxismo, analisando a luta de classes no sistema
escravista brasileiro do período colonial. Seu “Dicionário da escravidão negra no
Brasil” publicado em
2004 pós-morte encerrou a sua trajetória intelectual no campo da sociologia na
compreensão da raça negra do país ao lado de Florestan Fernandes e outros
autores de ponta nesta área do conhecimento.
Senhoras e Senhores, Clóvis Moura, o patrono desta cadeira
que passo a ocupar nesta magna sessão, foi, também, militante político de esquerda e lutador
integral das principais causas do
movimento negro do país. Negro, teve a
solicitude de ter causas a favor da humanidade, a favor do seu povo de cor e de
luta pela inclusão social ao longo da história desta nação. Assim sendo a ser
oferecido como patrono desta minha cadeira que hora a recebo o aceitei sem
recuar por conta do seu lastro de militante e poeta, também, dos melhores neste tempo de obscurantismos e
falta de esperança.
Senhor
Presidente desta Magna Casa, Senhores Acadêmicos/Acadêmicas presentes, neste
ato, reafirmo aqui e agora o poeta Clóvis Moura, o autor do emblemático e
antológico livro de poesias “Argila
da memória”(1962). É este poeta negro que cantou a infância do interior com
fulcro em Amarante, o Rio Parnaíba, o rio de todos nós e o folclore piauiense
na imagética do cabeça de cuia.
Ouçamos um pouco de Clóvis Moura como construtor poético:
RIO SECO
Cemitério de peixes
enterrados
no areal ardente e
transparente,
pedras que furam os
pés dos caminhantes
marcaram a
transferência dos sedentos.
Pedaços de memórias
marulhantes
ainda chegam à noite
nos seus ecos
e roteiros de barcos
são fantasmas
na memória de luas
macilentas.
Há no sol que
caustica as suas curvas
um sádico desdém por
suas margens
que hoje se fundem
ao leito que era líquido.
As carcaças de
tíbias e caveiras
de bois marcam a
distância do mistério
e o suor é sua linfa
derradeira.
Senhoras e Senhores, findo estas palavras
para agradecer a poetisa Marleide Lins Albuquerque pela insistência em me
trazer para esta casa de poetas e poesias, por reconhecer a paciência e zelo da
minha amada esposa Mônica Almeida, para saudar os meus filhos, filhas, netos e
netas, minha mãe Rosinha e meu pai Hiran Silva (in memoriam), irmãos, irmãs,
sobrinhos e sobrinhas, além dos meus amigos teresinenses e tuntunenses (irmãos
da minha terra de origem) presentes, nesta noite, neste ato solene, e como homenagem a Teresina nos seus 167 anos
onde me fiz poeta desde a década de 70 do século passado, professor, jornalista,
pai, avô e bacharel em direito passo a ler estes versos:
Elegia
Emerson Araújo
Elejo a palavra Teresina
Porque em mim ela é carne
Pedra nos seus anônimos pelo cais
Dilema que é misto de pressa e
sossego
Elejo Teresina.
Elejo a palavra Teresina
Porque labiríntica não deixa de ser
amor
E como tal faz suas secretas
histórias
Entre o céu e o meu calor
Elejo Teresina.
Elejo a palavra Teresina
Porque dédalo não deixa de ser pão
E como resposta aos seus inomináveis
trabalhos
Mesa nem tão farta nem tão não
Elejo Teresina.
Elejo a palavra Teresina
Porque címbalo não deixa de ser
canção
E como dissonância entre a asa e a
dor
Réquiem da saudade, escarlata flor
Elejo Teresina.
Muito obrigado, boa noite!