Crônica: O dono da páscoa




Emerson Araújo

Não há, na face da terra, um contexto tão coberto de emoções como a celebração da páscoa. Basta uma volta pelas cidades para se perceber que o silêncio destes dias parte de um acordo coletivo sem testemunhas e que o barulho dos carros e motos alucinadas deu lugar à reverência coberta de mistérios e atos sobrenaturais. É assim que a páscoa se intromete nas mesas fartas ou não das famílias numerosas de todos os rincões, também, no vinho tinto em cálices de cristais ou meio copos americanos nos toques das mãos sob o som de aleluias e améns.

Na celebração da páscoa descobrimos, ainda, que nem sempre somos melhores e reafirmamos, mesmo de maneira circunstancial, mínimas mudanças e futuras grandes mudanças em todas as áreas das nossas vidas sem comunhão ao longo dos anos. Mas é o clima de sofrimento, paixão, renovo e ressurreição nos moldando, nestes dias, que pescamos as interações abandonadas, não resta dúvidas, queiram ou não as intensas limitações pessoais que carregamos fora dela.

A verdade, agora, é vislumbrar, em nós mesmos, que nunca fomos o dono da páscoa de fato e nem de direito, nela somos o adjuvante com direito a pouca voz ou, no mínimo, um escrevedor de parcos períodos sob a égide da hipotaxe. O único dono páscoa é o filho unigênito de Deus, enviado para assumir todos os desvios e ilicitudes humanas sobre a terra como está encravado nos evangelhos do novo testamento. É o Cristo vivo, vencedor da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio, da salvação sobre a condenação, o dono desta páscoa de tarde sem chuva, de silêncio caótico sobre Tuntum.

E como na bela canção do sacerdote católico, nesta tarde de mais uma sexta-feira de páscoa, e, diante da máquina que não conversa comigo, fico a pensar em Deus, fico pensando no amor.

(*) Emerson Araújo é professor/administrador do Blog Bate Tuntum.