Roubando desde 1997


Reproduzo aqui o belo texto do nosso historiador Fonseca Neto, publicado hoje no jornal Diário do Povo, alertando os piauienses sobre a armação que está sendo montada nacionalmente para desestabilizar o governa da presidenta Dilma Rousseff. Como não consegue vencer mais pelo voto, a direita apela agora para uma tentativa de golpe. Leitura instigante e recomendável a todos, especialmente aos leitores raivosos da grande mídia (Veja, Isto É, Época, Folha de São Paulo, O Estadão, Globo....).

Roubando desde 1997

Um superladrão acordou com um juiz e disse que roubou a Petrobras desde 1997, ou 1998, tempo de Fernando Henrique presidente. O acordo incluiu um prêmio em dinheiro ao bandido e a garantia de que não ficaria preso. Então ele acrescentou que roubava para entregar o dinheiro roubado ao PT, o partido da atual chefe da nação. 
Esse ladrão tem um chefe, um bandido ainda maior, que está negociando, com a “justiça”, um prêmio especial: ficar com um percentual do dinheiro que roubou e que deveria ser devolvido à petroleira.  
O grande ladrão, além de premiado, é transformado num herói amado das facções políticas inimigas desse partido, e da própria presidente, cujo mandato o povo acabou de reafirmar nas urnas, em dois turnos. 
Vivêssemos numa República livre e com instituições respeitáveis, um fato como esse estaria fadado ao mais rigoroso escrutínio da coletividade e dele a vida pública/republicana tiraria lições de grandeza. No entanto, vivemos num arremedo de república, torcida e retorcida à força de terríveis impulsões. Vivemos, sim, numa espécie de entidade que certa neologia permite chamar de resprivada.  
Deformações? São historicamente estruturais, amarradas com cordame untado em diversas formas de corrupção. Da corrupção, prática e cultura, podemos dizer que, num só lance, move e corrói o corpo social, impedindo mesmo que nesta parte do mundo se tenha constituído plenamente as chamadas “esfera pública” e “esfera privada”, díade que é apanágio do mundo moderno. 
A corrupção se faz sentir também em sistemas políticos tidos por avançados, tais a Inglaterra, a França e Japão. Mas, aparentemente, as sociedades respectivas têm mecanismos impeditivos que esse câncer vire metástase. O caso do Brasil é que a corrupção se tornou metastática e muito que se tem ao redor são sinais de mortificação do corpo social, ora desanimado, ora sinalizando alguma vitalidade.
Diante da corrupção generalizada, no tempo, e nas diversas estruturas da engrenagem social, o que mais poderíamos examinar na ocorrência que envolve a ladroagem premiada, acima referida? Por que um bandido se torna o herói das facções pátrias inimigas do progresso humano e até de nazifascistas?   
No jogo das disputas pelo Poder nesta república sôfrega, esse ladrão “não se tornou” herói de facções; ele é um herói delas e sua própria encarnação. Nessa república, lastrada da “melhor gente para se fazer um povo”, conforme ensina Darcy Ribeiro, manda um esquema corrupto, mais dentro que fora da “lei”, que tomou em mãos e agarrou-se à institucionalidade. Gente que – acrescente-se ao pensamento do mestre – não alcançou tornar-se povo e viver numa republica fundamentada no livre querer, daí que manobrada por diversas formas (e modos) de manipulação de empulhadores.   
E por que a heroicização de ladrões, premiados e perdoados? Hipótese que deriva de um exame mais geral da conjuntura: aos que querem tomar o poder sem eleição, tudo vale para afastar o PT do centro político nacional e, sobretudo, os seus projetos e políticas públicas. Aponte o dedo acusando-os de uma molecagem qualquer e terá prêmio. Vagabundos e criminosos em geral, de dentro e de fora da lei, querem se “limpar” e ter perdão? Acusem o PT. E façam isso negociando, como parte da prestação de serviço, as capas e manchetes de esquemas golpistas de organizações parapartidárias no jogo das disputas, tipo Estadão, Folha, Globo, Abril e quetais. 
De uns tempos para cá, as acusações de falcatrua que envolvem o PT são feitas por ladrões confessos e que por suas acusações estão sendo premiados. Caso se metam a acusar PSDB, PMDB, DEM, PPS, PSB, e aliados, todos compradores de eleição, a pena aumenta e a cadeia é mais escura. Que q é isso? Os derrotados eleitorais não querem esclarecer nada, só a tomada do Poder e anular os avanços alcançados ultimamente. E ocorrendo de ter ladrões também no PT...? Para os acusadores, não interessa saber se isso é verdade, ou não. O ganho está em acusar. 
E o próprio PT? Deveria criar a coragem, cívica e historicamente inadiável, de denunciar a podridão exalada pelos gabinetes que a lei criou como lugares para negar a vontade popular, ter ânimo, e buscar meios para dizer aos eleitores de seus projetos e candidatos, o que, de fato, está acontecendo.
Professor Fonseca Neto
  

Por Fonseca Neto/Diário do Povo - Teresina

Um superladrão acordou com um juiz e disse que roubou a Petrobras desde 1997, ou 1998, tempo de Fernando Henrique presidente. O acordo incluiu um prêmio em dinheiro ao bandido e a garantia de que não ficaria preso. Então ele acrescentou que roubava para entregar o dinheiro roubado ao PT, o partido da atual chefe da nação. 

Esse ladrão tem um chefe, um bandido ainda maior, que está negociando, com a “justiça”, um prêmio especial: ficar com um percentual do dinheiro que roubou e que deveria ser devolvido à petroleira. 

O grande ladrão, além de premiado, é transformado num herói amado das facções políticas inimigas desse partido, e da própria presidente, cujo mandato o povo acabou de reafirmar nas urnas, em dois turnos. 

Vivêssemos numa República livre e com instituições respeitáveis, um fato como esse estaria fadado ao mais rigoroso escrutínio da coletividade e dele a vida pública/republicana tiraria lições de grandeza. No entanto, vivemos num arremedo de república, torcida e retorcida à força de terríveis impulsões. Vivemos, sim, numa espécie de entidade que certa neologia permite chamar de resprivada. 

Deformações? São historicamente estruturais, amarradas com cordame untado em diversas formas de corrupção. Da corrupção, prática e cultura, podemos dizer que, num só lance, move e corrói o corpo social, impedindo mesmo que nesta parte do mundo se tenha constituído plenamente as chamadas “esfera pública” e “esfera privada”, díade que é apanágio do mundo moderno. 

A corrupção se faz sentir também em sistemas políticos tidos por avançados, tais a Inglaterra, a França e Japão. Mas, aparentemente, as sociedades respectivas têm mecanismos impeditivos que esse câncer vire metástase. O caso do Brasil é que a corrupção se tornou metastática e muito que se tem ao redor são sinais de mortificação do corpo social, ora desanimado, ora sinalizando alguma vitalidade.
Diante da corrupção generalizada, no tempo, e nas diversas estruturas da engrenagem social, o que mais poderíamos examinar na ocorrência que envolve a ladroagem premiada, acima referida? Por que um bandido se torna o herói das facções pátrias inimigas do progresso humano e até de nazifascistas? 

No jogo das disputas pelo Poder nesta república sôfrega, esse ladrão “não se tornou” herói de facções; ele é um herói delas e sua própria encarnação. Nessa república, lastrada da “melhor gente para se fazer um povo”, conforme ensina Darcy Ribeiro, manda um esquema corrupto, mais dentro que fora da “lei”, que tomou em mãos e agarrou-se à institucionalidade. Gente que – acrescente-se ao pensamento do mestre – não alcançou tornar-se povo e viver numa republica fundamentada no livre querer, daí que manobrada por diversas formas (e modos) de manipulação de empulhadores. 

E por que a heroicização de ladrões, premiados e perdoados? Hipótese que deriva de um exame mais geral da conjuntura: aos que querem tomar o poder sem eleição, tudo vale para afastar o PT do centro político nacional e, sobretudo, os seus projetos e políticas públicas. Aponte o dedo acusando-os de uma molecagem qualquer e terá prêmio. Vagabundos e criminosos em geral, de dentro e de fora da lei, querem se “limpar” e ter perdão? Acusem o PT. E façam isso negociando, como parte da prestação de serviço, as capas e manchetes de esquemas golpistas de organizações parapartidárias no jogo das disputas, tipo Estadão, Folha, Globo, Abril e quetais. 

De uns tempos para cá, as acusações de falcatrua que envolvem o PT são feitas por ladrões confessos e que por suas acusações estão sendo premiados. Caso se metam a acusar PSDB, PMDB, DEM, PPS, PSB, e aliados, todos compradores de eleição, a pena aumenta e a cadeia é mais escura. Que q é isso? Os derrotados eleitorais não querem esclarecer nada, só a tomada do Poder e anular os avanços alcançados ultimamente. E ocorrendo de ter ladrões também no PT...? Para os acusadores, não interessa saber se isso é verdade, ou não. O ganho está em acusar. 

E o próprio PT? Deveria criar a coragem, cívica e historicamente inadiável, de denunciar a podridão exalada pelos gabinetes que a lei criou como lugares para negar a vontade popular, ter ânimo, e buscar meios para dizer aos eleitores de seus projetos e candidatos, o que, de fato, está acontecendo.

* Fonseca Neto é historiador, professor da UFPI, Advogado e Membro da Academia Piauiense de Letras. É natural de Passagem Franca - Maranhão.