O grande desafio de Dilma é manter o tripé que sustentou seu governo e o de Lula: políticas sociais, estabilidade econômica e melhoria da infraestrutura.
Antônio Lassance/Carta Maior
"Um pessoa nunca se banha duas vezes no mesmo rio. Da segunda vez, já não será a mesma pessoa, nem o mesmo rio" (Heráclito de Éfeso).
A presidenta que tomou posse para o segundo mandato já não é mais a mesma pessoa e não está mais no mesmo Brasil de quatro anos atrás.
Dilma tem agora mais experiência. Aprendeu por tentativa e erro e, também, aos trancos e barrancos, que precisará agir de forma diferente para sobreviver às constantes tentativas de cerco contra seu governo. Precisará ser outra Dilma.
Sua popularidade começa menor, comparada à de 2011. Seus partidos de apoio diminuíram de tamanho no Congresso e estão mais pulverizados. Os movimentos sociais veem boa parte de seu ministério com desconfiança.
A oposição partidária e midiática está mais agressiva do que nunca.
A economia vai mal. Vai mal praticamente no mundo inteiro, o que torna difícil qualquer cenário mais otimista.
A única boa notícia possível é a de que este ano tende a ser um pouco melhor do que anterior, mas não o suficiente para imaginar que o Brasil e a América Latina recuperem sua atividade econômica em ritmo mais intenso.
Dilma tem em mãos muitos grandes problemas. Os três principais são:
1) na política, a relação com o Congresso, com os movimentos sociais e com a mídia;
2) na macroeconomia, a sintonia fina para reforçar as contas públicas e controlar a inflação sem comprometer o emprego e retomando aos poucos o crescimento;
3) Nas obras de infraestrutura, o grande problema é que a espinha dorsal dos investimentos depende das estatais, em especial da Petrobrás, e das empreiteiras, todas elas enredadas em uma crise instalada pelas revelações da Operação Lava Jato.
O ano de 2015 será de vacas magras. O governo precisa imediatamente preparar a população para isso.
Terá deixar claro onde serão feitos ajustes e mesmo sacrifícios e a que preço.
O grande desafio de Dilma é manter o tripé que sustentou seu governo e o de Lula: políticas sociais de redução das desigualdades, estabilidade econômica e melhoria da infraestrutura.
Esses três ingredientes serão fundamentais para o sucesso ou fracasso de seu segundo governo e estarão sob constante disputa de todos os setores - esperemos também que os movimentos sociais estejam atentos para essa agenda.
Está claro que não basta eleger presidentes da República.
O Brasil, em 2015, é um carro com pouco combustível enfrentando um terreno esburacado e íngrime.
Precisará ser empurrado para o rumo certo por aqueles que torcem para que ele possa voltar a engrenar.
(*) Antonio Lassance é cientista político.