Por Leonício Aires (*)
Não trabalhar, comer muito e jejuar. Mas como assim? Se empanturrar em abstenção de comer? Explico, adultos em geral não realizavam a primeira refeição do dia, não trabalhavam na roça, não tomavam banho e nem lidavam com animais. Homens se concentravam a manhã inteira em mesas de baralho, uns jogando outros "aperuando". Meio dia em ponto era momento do banquete e da oração. Carne somente de peixe; mas tudo do bom e do melhor, com direito a sobremesa de bolo com café, repetida no jantar.
Parentes e amigos vinham de longe para cumprir os rituais. Mulheres em dedicação ao preparo da farta ceia, com direto a torta de sardinha, bacalhau, e macarrão; nem que fosse "para cheirar"!
Vale enfatizar isso porque não se tinha o hábito nem a condição desse luxo fora a sazonalidade. Às moças cabiam o planejamento e confecção do Judas para ser malhado após a Sexta-feira da Paixão.
Rapazes à espreita, tentavam descobrir o plano de furto do personagem central de todas as brincadeiras e passatempos. Cabia aos rapazes o desafio de descobrir o esconderijo, inclusive com a infiltração de meninos na investigação que, às vezes, até culminava com o aborto da empreitada, cujo ápice era o achado. Alforria geral aos meninos, com jogo de bola, brincadeiras de roda e imunização a castigos de todas ordens, embora certas traquinagens pudessem lhes gerar a expectativa de romper a Aleluia com taca. Sábado as grandes festas anuais. O rádio transmitia o sofrimento de Jesus. Todos se comoviam em reflexão.
Sofreu por nós!
(*) Leonício Aires é Professor do Estado do Maranhão. Membro Titular da Academia Passagem de Letras.