"O povo palestino é tratado como uma sub-raça", diz advogado Nuredin Ahmad Allan
247 - O recente conflito entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas trouxe à tona uma série de questões controversas que vão além dos aspectos explorados pela mídia hegemônica. Em entrevista concedida à jurista Carol Proner, o advogado Nuredin Ahmad Allan, membro da executiva nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e de ascendência palestina, abordou a situação dos palestinos e a complexidade do conflito na região.
Nuredin, que tem parentes na Palestina e amigos que vivem na região próxima a Jerusalém, trouxe à tona uma visão crítica sobre a forma como o povo palestino é tratado pelo Estado de Israel. A entrevista revelou aspectos da vida cotidiana dos palestinos, marcada por limitações em mobilidade, oportunidades de emprego e acesso a recursos básicos. Allan destacou que, mesmo fora da Cisjordânia ou da Faixa de Gaza, os palestinos enfrentam restrições e maus-tratos por causa de sua origem étnica.
"Nós temos parentes (na linha paterna) que ainda moram na Palestina. São em sua maioria primos. Meu pai nasceu na Palestina e imigrou para o Brasil em 1956. Tenho também amigos, descendentes de palestinos que nasceram no Brasil, mas, na vida adulta se mudaram para a Palestina. Moram, em maioria, em região próxima à cidade de Jerusalém, uma cidade chamada Anata. Por isso, pela proximidade de Jerusalém o risco bélico é reduzido, mas sofrem todo o tipo de limitação, restrição e de maus tratos, por serem palestinos. Não podem entrar em Jerusalém e visitar os seus templos sagrados, por exemplo. Porque há dias que são proibidos de acessar a cidade. A liberdade de movimentação é reduzida, por serem palestinos. A oferta de emprego é diferente, por serem palestinos. Não podem, em regra, construir ou melhorar a urbanização das regiões que moram, por serem palestinos", declarou Nuredin.
A entrevista também abordou a necessidade de contextualizar o conflito, indo além da visão polarizada que muitas vezes prevalece na mídia internacional. Nuredin Ahmad Allan apontou que a origem do conflito não pode ser ignorada, e a história de 75 anos de hostilidades deve ser considerada ao analisar a situação atual.
"De acordo com a imprensa ocidental, como regra, parece que o conflito se iniciou com o ataque do Hamas. É evidente que nada pode justificar a violência e a morte de inocentes, mas é preciso entender a origem do conflito. O povo palestino é tratado, e sempre foi, como uma sub-raça pelo estado de Israel. Os palestinos vivem com limitações em todos os sentidos, desde mobilidade até oportunidades de emprego. É uma vida vigiada, sem autonomia e, em muitos casos, com uma gradativa escala de retirada da esperança", ressaltou o advogado.
Sobre a postura do Brasil no conflito, o advogado elogiou a abordagem diplomática cautelosa adotada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele enfatizou a importância de evitar uma visão binária e reconhecer o desejo de paz de todos os palestinos. A Autoridade Palestina já reconheceu o Estado de Israel e busca uma convivência pacífica, mas as violações dos direitos humanos persistem.
"A postura do governo Lula neste caso me parece perfeita. A discussão binária apenas interessa a quem se encontra na condição de poder, no caso do Estado de Israel, e tende a elevar os conflitos. Todos os palestinos que conheço querem a paz. A autoridade Palestina já reconheceu o Estado de Israel. Quer viver em paz. Quer que seu povo possa ter tranquilidade e que suas crianças possam crescer olhando para o futuro, com esperança e sem enterrar seus mortos, decorrentes dos ataques bélicos e desproporcionados do estado de Israel", enfatizou.
A entrevista também abordou as condenações da ONU à resposta violenta de Israel em Gaza e a crescente contestação à unipolaridade bélica, jurídica e econômica dos Estados Unidos em aliança com Israel. Nuredin expressou preocupações sobre a continuidade do sofrimento do povo palestino e o preço desumano do conflito.
"A violência de Israel com o povo palestino ocorre há décadas. A Faixa de Gaza e a Cisjordânia sofrem todo o tipo de violação humanitária. Eles vivem uma guerra diária desde sempre. A imprensa ocidental jamais trouxe a público a realidade do cotidiano de uma criança nessas áreas. São situações de comoção absoluta. Há uma constante luta para acessos básicos, como escolas, por exemplo. Sobre a questão interna, sabemos que há muitos conflitos internos dentro do grupo político que comanda Israel. Eu não duvidaria. Quem conhece a realidade do povo palestino, não duvide de nada, em se tratando de Israel", concluiu.