Lamento discordar de quem acha que Bolsonaro e o bolsonarismo são o que de pior temos no país.
Infelizmente não o são, representam emanações – horríveis e fétidas, é verdade – de um lodo que sempre existiu e que, durante a maior parte da “Era Lula”, com a bonança econômica, permaneceu assentado até que surgiu em 2013, quando a parte da classe média levou às ruas as exigências de “Padrão Fifa” para escolas e hospitais, em contraposição aos estádio daquela Copa que, pouco tempo antes, era motivo de suas comemorações “patrióticas”.
Não é o caso e tratar aqui esta história, menos obscura do que parece, mas de nos apercebermos que elas, embora sejam excitadas pela mídia e amalgamadas por personagens como Carlos Lacerda, Fernando Collor, Sérgio Moro e , agora , Jair Bolsonaro (reparem a escala fortemente acentuada de estupidez), existem.
São mais reais e significativas que os atores políticos que as galvanizam.
E como dispensam a racionalidade e se alimentam de nutrientes básicos – moral, religião, autoridade – e de argumentos simplórios – anticorrupção, pseudopatriotismo, policialismo e “modernidade” – toleram, quando não aplaudem, as maiores barbaridades.
Postas a flutuar, como um mancha sufocante, não se desfazem com as ondas da política, apenas, e a história recente o comprova. São resilientes, gosmentas, grudam, aderem à vida social e engolfam todo o campo conservador ou liberal que não podem ensaiar independência e realizar submissão, porque ajudaram a construir o ódio o qual se deixaram capitanear na política.
São prisioneiros de sua cria.
Nada disso torna menos necessário e essencial a luta politica, mas aguça a compreensão de que é a falta de um projeto de país – e, portanto, de um projeto econômico como meio para isso – o que pode dissolver a maré autoritária e a borra de estupidez que está sufocando a vida nacional.
Muito menos cair-se no conto de que a presença e Lula, a única referência politica entranhada na alma popular, onde quer que ela esteja, serie um empecilho para que a população descobrisse um hipotético “novo” que a pudesse empolgar.
E isso não é uma questão de “torcida”, mas da inevitabilidade de que um país imenso como o Brasil não pode seguir desgovernado, sem rumo com está e que a memória do governo no velho líder é capaz de contrastar.
O povo tem a estranha mania de ter memória, inclusive inter geracional.
Na política, é natural o rondó dos que querem se apresentar como “o novo”, nestas épocas preliminares.
Mas na hora do combate, duvido que, se a direita não o mantiver impedido, o povo brasileiro não vá buscar Lula para dar seus últimos anos de vida ativa ao esforço e recolocar este país no caminho em que desenvolvimento e justiça social, como dizia o velho Brizola, sejam dois trilhos de uma estrada de ferro.
Mas a história é também uma pirâmide, onde novas pedras devem se assentar sobre as antigas, aquelas que seus inimigos sempre.