Marinha pretende esvaziar parte dos tanques para tentar desencalhar navio na costa do Maranhão

Mancha de óleo se espalhou por quase 830m na orla do Maranhão — Foto: Reprodução/TV Mirante
A Marinha revelou, no fim da manhã deste sábado (29), que pretende, nos próximos dias, retirar parte do óleo e do minério do navio Stellar Banner como alternativa para tentar desencalhar a embarcação, que está a cerca de 100 km da costa do Maranhão.

A informação foi divulgada uma coletiva de imprensa com representantes da Polaris (proprietária da embarcação), Vale (que abasteceu o navio) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Atualmente, o navio segue encalhado com cerca de 290 mil toneladas de minério de ferro, além de quatro milhões de litros de combustível e óleo. Após encalhar, mais de 333 litros de óleo vazaram dos porões do navio, que se espalharam por uma área de 0,79 km², segundo o Ibama.

Já como medida tentar desencalhar o navio, o Navio de Apoio Oceânico (NApOc) “Iguatemi”, da Marinha, chegou nessa sexta-feira (28) à embarcação encalhada para operar em coordenação com os rebocadores presentes na área para desencalhar a embarcação. Outros três navios devem chegar nos próximos dias como suporte.

De acordo com a equipe especializada contratada pela Polaris, os tanques da embarcação estão intactos, a casa de máquinas do navio está seca e os motores de geração de energia estão em funcionamento. A Marinha também enviou o Navio Hidroceanográfico “Garnier Sampaio” para área de ação.

"Nós temos um plano que é exatamente para proteção de todo dano ambiental que, porventura, possa ser acionado. Então, temos apoio de empresas que estão entre as mais capacitadas do mundo, com grande experiência nisso, para preservarmos a parte ambiental", explicou o comandante do 4º Distrito Naval da Marinha, Newton Costa Neto.

A estimativa da quantidade de óleo foi calculada a partir de dados obtidos pelos sensores de detecção de óleo da aeronave Poseidon, que sobrevoou o local. Ainda segundo o Ibama, o óleo saiu do porão da embarcação e solicitou aos responsáveis pela contenção da emergência que realizem a dispersão mecânica do resíduo.

Além disso, na reunião deste sábado (29), as empresas informaram que estão sendo coletados dados para o inquérito administrativo, no intuito de apurar causas, circunstâncias e responsabilidades do incidente.

Notificações

O Ibama também declarou nessa sexta que notificou a Polaris (proprietária da embarcação) e a Vale (que abasteceu o navio). As notificações exigem:

- Apresentação de especificação, volume e condição de armazenamento de todos os tipos de óleo a bordo do navio.

- Informação sobre quantidade de tanques e o volume atual de óleo em cada tanque de combustível.

- Informação que permita saber se todos os tanques se encontram estanques. Caso contrário, informar quais não estão e por que motivo.

- Apresentação de especificação, volume e condição de armazenamento de outras substâncias nocivas ou perigosas a bordo da embarcação.

- Contato da empresa de resposta responsável por atendimento a eventuais derramamentos de produtos perigosos.

- Contato da empresa de salvatagem.

- Especificação e possível origem da substância que já saiu do navio para o meio ambiente e estimativa de volume.

- Informações sobre data, horário e conteúdo de possíveis comunicados de acidente ambiental aos órgãos ambientais competentes.

As empresas terão um dia de prazo para atender às exigências após o recebimento da notificação. O G1 entrou em contato com a Polaris e a Vale sobre as notificações, mas ainda não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Riscos

A Marinha e o Ibama ainda não descartam o risco vazamentos no navio. Atualmente, a embarcação segue encalhada e com cerca de 290 mil toneladas de minério de ferro, além de quatro milhões de litros de combustível e óleo. Se houver vazamento, todo o material pode se espalhar pelo litoral.

"O ideal é que se façam estudos que tenham com precisão os reais riscos da embarcação. Mas, independente disso, são tomadas todas as providências de forma preventiva. Então nós já temos um estudo de modelagem, para onde esse óleo pode bater, chegar na costa, caso venha a acontecer um incidente. E já deixar disponível os equipamentos de proteção a essas áreas sensíveis", afirmou Marcelo Amorim, coordenador de atendimento de emergência ecológica do Ibama.

Nesta sexta (28), o comandante da Capitania dos Portos, Alekson Porto, disse que técnicos avaliam se ainda vai ser possível recuperar o navio ou se a carga e o óleo serão retirados.

"A nossa preocupação primeiro é entrar no navio e mapear qual é o dano. A segunda preocupação é retirar o óleo presente na embarcação. A terceira é fazer o plano de salvatagem para retirar aquela embarcação de lá", disse o comandante.

Sobre o risco de naufrágio, a Marinha afirmou que o risco é pequeno, mas não é impossível. Há, atualmente, quatro rebocadores na região para agir em caso de emergência.

"É muito cedo poder dizer alguma coisa. Ela [Polaris] vem acompanhando e empregando dois navios do 4ª Distrito Naval de São Luís, um com previsão de chegada nas próximas 24h e outro no sábado (29). Hoje nós temos uma aeronave no local, que se apresentou a cena de ação e está com o nosso chefe do gabinete de crise. Hoje a embarcação está encalhada, na região não tem profundidade suficiente para cobrir a embarcação", disse o comandante Alekson Porto no dia 27.

Proprietária do navio tem histórico ruim

O navio Stellar Banner é de propriedade da empresa sul-coreana Polaris Shipping. Essa empresa é a mesma responsável pelo Stellar Daisy, embarcação que naufragou no Oceano Atlântico em 2017 após ter sido carregado no Terminal Marítimo da Ilha de Guaíba que pertence a mineradora, na Ilha de Guaíba, no Rio de Janeiro.

Buracos na estrutura do Stellar Banner

O navio Stellar Banner tem capacidade para 300 mil toneladas de minério de ferro e possui 340 metros de comprimento, o equivalente a quase quatro campos de futebol. A embarcação foi abastecida pela Vale e saiu do Terminal Portuário da Ponta da Madeira, em São Luís, com destino a um comprador em Qingdao, na China.

Segundo a Capitania dos Portos, o navio apresentou ao menos dois locais com entrada de água nos compartimentos de carga por volta das 21h30 desta terça (25) e começou a afundar no Oceano Atlântico. Uma fissura no casco pode ter sido a causa.

O comandante do navio emitiu um alerta de emergência via satélite e levou a embarcação para um banco de areia. Até a última atualização desta reportagem, o navio continua encalhado.

Equipes da Capitania dos Portos e da Vale foram encaminhadas para o local e cerca de 20 tripulantes foram evacuados. Segundo a Marinha, todos permanecem em segurança na área a bordo de quatro rebocadores que foram enviados ao local

A empresa Polaris Shipping, proprietária do navio, informou que todos os membros da tripulação estão seguros e que está realizando inspeções para evitar maiores danos.

"Como resultado do incidente, alguns tanques de água e espaços vazios sofreram danos, embora a extensão dos danos ainda deva ser estabelecida. Acredita-se que os porões de carga estejam intactos e a situação está sob controle. Com o intuito de melhor mensurar os danos e garantir a segurança, a embarcação foi movida para uma área mais segura. Inspeções serão realizadas por especialistas e uma empresa de resgate foi acionada", diz a nota.

Já a Vale informou em nota que está atuando no caso com suporte técnico e que colabora com as autoridades marítimas."

"A Vale informa que tem empenhado todos os esforços e recursos para mitigar os possíveis impactos causados pelo incidente com o navio MV Stellar Banner, de propriedade e operado pela empresa sul-coreana Polaris. Entre as medidas de apoio técnico e logístico adotadas pela Vale nesta quinta-feira (27), em conjunto com as autoridades marítimas e ambientais responsáveis, estão: Solicitação à Petrobras da cessão de navios Oil Spill Recovery Vessel (OSRV) para contenção de eventual vazamento de óleo, pedido que foi prontamente atendido; Solicitação e obtenção junto ao Ibama, de forma célere, de devida autorização formal para o deslocamento das embarcações para a Costa do Maranhão; Contratação de especialistas em salvatagem, adicionalmente à empresa contratada pela proprietária e operadora do navio, para acelerar o plano de retirada do óleo da embarcação; Solicitação de boias oceânicas off shore, que podem servir preventivamente como barreiras de contenção adequadas para mar aberto, se necessário; Disponibilização de helicópteros para a movimentação de pessoal até o local", afirma a empresa.

G1/MA