Bolsonaro chega ao fim do primeiro ano de seu mandato com a pior avaliação de um presidente eleito desde a redemocratização, como alguém que afeta negativamente a imagem do Brasil no mundo, como um personagem em cuja palavra não se pode confiar e como alguém que não se comporta como exige o decoro presidencial. Ou seja: mesmo que sua queda tenha sido temporariamente estancada, em razão de algum alívio econômico, os dados revelados neste domingo pelo Datafolha indicam que ele derrete na presidência da República.
Os dados também indicam que a percepção de combate à corrupção também diminuiu – o que é natural, para um governo envolvido no laranjal eleitoral e nos esquemas da rachadinha do Queiroz – e que o tamanho do chamado "gado bolsonarista" é de 14% da população brasileira. Ou seja: este seria o tamanho do núcleo duro do bolsonarismo, que hoje ilude um número cada vez menor de brasileiros, que parecem cansados diante de tantos insultos que partem de Brasília e de uma governança tão grotesca do ponto de vista civilizatório.
O que poderia salvar Bolsonaro seria uma arrancada econômica, mas os sinais nesse campo ainda são contraditórios. Embora o desemprego tenha apresentado relativa queda, os ganhos na percepção de bem-estar são limitados, em razão da precariedade das novas vagas e dos rendimentos menores. Afora isso, o real desvalorizado contribui para uma inflação maior, especialmente dos alimentos, o que afeta a população mais pobre, que é hoje a que mais rejeita e se sente traída pelo bolsonarismo.
Como diz Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, ao terminar o ano, o que sustenta Bolsonaro é apenas o tempo. "A maioria da população, indiferente à politica e mal informada, acha que é cedo para decretar que ele não presta. Se o tempo de governo não fosse ainda pequeno, as cobranças seriam maiores e menor a paciência. A incompetência não seria desculpada como fruto da inexperiência ou da 'novidade”, diz ele, em artigo publicado aqui no 247.
A questão que se coloca diante dos brasileiros, em especial daqueles que se imaginam "elite", é se faz sentindo manter, em nome de uma política neoliberal que promete apenas um voo de galinha, o apoio a um presidente inconfiável,. sem decoro e que avacalha a imagem do Brasil no mundo. Mais do que isso, alguém que é percebido fora do país como uma ameaça à civilização.
E assim chegamos à armadilha em que o Brasil foi colocado nos últimos anos. Aquele que elevou a imagem do Brasil no mundo e conduziu o governo melhor avaliado pela maioria dos brasileiros, o ex-presidente Lula, foi alvo de uma intensa campanha de ódio, movida por preconceitos locais e grandes interesses internacionais, mas ainda se mantém como o nome mais viável para derrotar o neofascismo brasileiro. O jogo, como diz o colunista Merval Pereira, do Globo, está polarizado entre Lula e Bolsonaro e os projetos que se dizem de "centro" se mostram inviáveis.
De Bolsonaro, nada se pode esperar, a não ser mais degradação civilizatória. Lula, por sua vez, também definiu seu desafio. "Só tem um sentido a minha liberdade: é lutar para que o povo brasileiro volte a ter o direito de sorrir nesse país. Lutar para que o povo volte a ter direito de comer três vezes ao dia, o direito de estudar, de ter acesso à cultura. A ter o direito de comer carne", afirmou.
Em tempos normais, a escolha entre esses dois polos seria óbvia,. Lula seria convocado por aqueles que ajudaram a golpeá-lo para resgatar o Brasil do abismo e reconstruir o projeto de uma civilização brasileira. Mas haverá essa grandeza por parte dos golpistas? E, mais do que isso, haverá a "permissão" do imperialismo para que o Brasil se liberte ou alguma ação mais contundente do povo de Bacurau? A ver em 2020.
Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das revistas Istoé e Nordeste