Armar a população é promover a barbárie

Armar a população não é uma política de Segurança Pública, pelo contrário, é a desistência de construir uma política pública de segurança da pessoa humana, que é dever do Estado, é declarar-se incompetente para desenvolver esse projeto de segurança que é, necessariamente, preventivo.

Recentemente líderes evangélicos têm proposto a seus fiéis votarem no candidato que, segundo eles, tem a política adequada aos desejos de verdadeiros cristãos.

Gostaria de tecer algumas considerações sobre isso.

Armar a população não é uma política de Segurança Pública, pelo contrário, é a desistência de construir uma política pública de segurança da pessoa humana, que é dever do Estado, é declarar-se incompetente para desenvolver esse projeto de segurança que é, necessariamente, preventivo.

Armar a população é emular a barbárie, atribuindo ao cidadão a responsabilidade por sua defesa pessoal, sabendo que este não tem o treinamento nem a disposição mental para isso.

Tampouco é Segurança Pública premiar policiais que mais matarem, ou buscar exterminar os bandidos por meio da morte… isso é rito sumário e, apenas, incitação à violência e ao assassinato.

Desacatar mulheres, sugerindo a inferioridade da mulher em relação ao homem, não é uma política de igualdade de gênero, é misoginia, é assédio moral; é crime

Aludir à possibilidade de estupro em relação à alguém não é descuido verbal, é violência inominável e crime inafiançável.

Apoiar a prática da tortura, elogiar torturadores, não é política de segurança pública ou nacional, é crime de lesa-humanidade, também, inafiançável

Dizer que negros quilombolas não servem nem para reproduzir, não é mera grosseria, muito menos política de igualdade racial, é racismo… também, crime inafiançável.

Dizer que os adversários políticos deveriam ser metralhados, inclusive, imitando o gesto de disparar uma metralhadora, não é uma reforma política democrática pluripartidária, é incitação à violência e desrespeito; e é apropriação do discurso do unipartidarismo, com viés tirânico.

Atacar o pedagogo Paulo Freire, este sim, cristão, não é política educacional, é mera ignorância, e desserviço à educação, em todos os níveis..

Deplorar seres humanos porque se entendem de modo diferente não é defesa da família, é desamor ao próximo..

Convenhamos… isso não é cristão, logo, não corresponde a nenhum desejo nosso e, portanto, Cristo não pode ser evocado como desculpa para tais propostas hediondas.

Políticas são as propostas de capitalistas, trabalhistas ou socialistas, com suas nuanças assumidas pelos vários partidos que as subscrevem…

Os fiéis, libertos por Cristo, são, por definição, livres para escolher, democraticamente, entre as propostas de políticas públicas que tais partidos trarão, por decorrência, em seus programas.

Então, pastores e pastoras, lídimos líderes espirituais, guiem o povo que lhes foi confiado à liberdade de consciência e à ilustração…

Não permitam que os fiéis confundam vômito com alimento.

Ariovaldo Ramos é pastor evangélico.