247 - Se alguém do campo progressista ainda tinha dúvidas sobre o posicionamento político do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foram relembrados nesta sexta-feira, 11.
Alçado ao STF pelas mãos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Gilmar concedeu nesta sexta-feira (11) um habeas corpus e mandou soltar o ex-diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, operador do PSDB. Ele foi preso no início do mês pela Polícia Federal em São Paulo.
Recursos recebidos por Paulo Preto são ligados principalmente ao ex-governador José Serra. De acordo com autoridades suíças, ele mantinha o equivalente a R$ 113 milhões em contas fora do Brasil.
O dinheiro estava em quatro contas bancárias, abertas em 2007, por uma offshore sediada no Panamá, cujo beneficiário é Paulo Vieira de Souza. Em 2017, o montante foi transferido para as Bahamas, apontaram os documentos da Promotoria suíça enviados ao Ministério Público brasileiro.
Em março, a Lava Jato denunciou o ex-diretor da Dersa por desvio de R$ 7,7 milhões, entre 2009 e 2011. O recurso era destinado ao realojamento de famílias desalojadas pela Dersa para a construção do Rodoanel, obra realizada na gestão do tucano José Serra (2007-2010).
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Preto estaria por trás de ameaças a uma testemunha, Mércia Ferreira Gomes, motivo pelo qual deveria ser preso. Uma pessoa teria abordado a ex-funcionária terceirizada da Dersa na rua e dito "você é o arquivo vivo da Dersa e cuidado para não ser o arquivo morto".
Para Mendes, há apenas a palavra de Mércia para embasar as supostas ameaças, o que seria insuficiente para manter Paulo Preto preso. "Além da comprovação do ocorrido não ser sólida, não há indício da autoria das ameaças por parte do paciente [Paulo Preto]", escreveu o ministro.
Enquanto Paulo Preto, que fez caixa para campanhas tucanas, incluindo a campanha presidencial de José Serra de 2010, deve voltar para casa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, maior presidente da história do País, líder em todas as pesquisas de intenções de voto e condenado por supostas reformas num imóvel da OAS que nunca foi seu, é mantido como preso político na dese da Polícia Federal em Curitiba e tem sucessivos recursos pela sua liberdade negados.
Um dia antes de soltar Paulo Preto, Gilmar Mendes deu entrevista à agência Bloomberg, alinhada ao mercado financeiro internacional, em que disse que a inelegibilidade de Lula é uma questão "aritmética".
"Enquanto houver vida, há esperança, mas, para mim, a inelegibilidade de Lula é aritmética: ele está condenado em segundo grau por crime contra a administração pública", afirmou. "Discutimos esta questão do habeas corpus e dissemos que seria lícita a ordem de prisão em segunda instância. O pleno do STF já decidiu a matéria com relação ao caso Lula. Para nós, esse assunto está encerrado", declarou.