As folhas vibras de Menezes y Morais em Brasília




Por Emerson Araújo

As distâncias em Brasília são enormes. Aqui,  na invenção do Seu Juscelino e dona Sarah,  toda estrada é profundo esconderijo, interminável, sensação de não chegar nunca. Mas,  na manhã deste domingo(10/01/2016), deixei os parques,  os clubes de lado para uma visita que ultrapassou o saudosismo do meu Piauí(reconheço que sou abençoado por pertencer a dois entes federados, e,  agora,   a três cidades do meu país) e abracei Menezes y Morais no seu aconchego possível entre folhas de formatos tantos e  brisa papel de seda esvoaçantes no cenário.


Menezes y Morais é um underground das letras brasileiras, mesmo parecendo viver no exílio entre aglomerados de apartamentos com a sombra de Le Corbusier nas vigas de sustentação e avenidas geométricas imensas, o escritor/poeta/teatrólogo/pesquisador/historiador/jornalista/freelancer, nascido no Piauí, continua resistindo bravamente como nos idos de 80 (oitenta) em Teresina. Encontrei-o com Francisco nos braços e um vigor físico juvenil  sob as bênçãos das folhas verdes, do fusquinha amarelo e dos pardais ao redor da casa por terminar. 



Apesar da enorme luta para decodificar a entrada do Condomínio Verde e da Rua Pau D'arco, onde Menezes se nutre hoje,  nos diversos jardins botânicos de BsB, contei, ainda,  na manhã fria deste domingo,  com a paciente tolerância de Geovânio Fernandes, tuntunense dos melhores,  para vasculhar os esconderijos desta cidade do sonho episcopal de Dom Bosco. Chego ao portal do casario entre as folhas vivas/vibras e  Menezes y Morais me recebe com um abraço de irmão que há mais de 20(vinte) anos não se viam. A festa só não foi completa porque faltou um cálice de vinho seco no intervalo do diálogo que travamos, mas a nossa prova dos nove girou nas eternas lembranças do nosso Piauí, de Teresina, Tuntum, Altos de João de Paiva e da geração do mimeógrafo que perambulou pelas madrugadas de Terê e seus silêncios, na nossa miséria humana de acreditar na utopia que os covardes jogaram numa lama depois.


Mas ali entre folhas e  traquinagens de Francisco e muitos e muitos livros de autores diversos, Menezes y Morais e eu sob o olhar atento de Geovânio Fernandes, meu guia predileto de Brasília,  não fizemos autocríticas e nem premiamos os nossos azares na vida. Rememorizamos apenas os casos possíveis de Teresina em seu melhor tempo, declinamos os  nomes de William Melo Soares, João Luiz do Nascimento, F. Eduardo Lopes,  Aírton Sampaio de Araújo, José Olímpio Castro, Pablo Morais, Marcello Morais...e fincamos olhares de dores/alegrias por perdas e achados na imensidão das folhas verdes/vibras de galhos e manhã domingueira.

Foram duas horas com sensação de duzentos anos que eu e Menezes y Morais sentamos lado a lado para projetar letras novas ou velhas, mas assépticas,  no dedilhar dos livros de farta e generosa poesia e na paz do silêncio (como diz a canção popular), e nos despedimos com outro abraço e o firme propósito de voltarmos a nos ver ainda em 2016, talvez para apresentar a BsB, Címbalos, Lutas e Olhares. 



Quando soube da morte de David Bowie, nesta segunda-feira, lembrei de novo de Menezes y Morais, agora em Teresina nas tardes de sábado nos meados de 1979, sentado no chão da sala de estar, na  audição de "Starman" e  "Space Oddity"  do eterno camaleão do rock (agora morto) entre cálices e pratos gulosos,  sedinha amarela perfumada de alecrim e uma vitrola analógica desafiando todos os coros dos contentes e a vocação conservadora da cidade que não nos quis mais.