Por Bernardo Mello Franco/Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Ao reaparecer na segunda-feira após um sumiço de 45
dias, Marina Silva usou uma metáfora amazônica para descrever a fase de
seu projeto político. "Este não é o momento da cheia. É o momento da
vazante", disse, referindo-se à época em que os rios perdem volume e
ficam com as margens expostas.
Três meses depois da derrota na eleição presidencial, Marina amarga uma
temporada de seca. Os dois coordenadores da campanha de 2014, Walter
Feldman e Luiza Erundina, abandonaram o barco. A ex-senadora ficou
sozinha na floresta com os escudeiros que a acompanham desde que assumiu
o Ministério do Meio Ambiente, há 12 anos.
Marina quer registrar a Rede Sustentabilidade em março. O partido
nascerá nanico: segundo dirigentes, deve atrair até cinco deputados
federais, menos de 1% dos 513. Sem mandato, a ex-senadora será
representada pela 18ª bancada da Câmara, ao lado de PSOL e PHS. É muito
pouco para influenciar votações e pressionar o governo Dilma.
No Congresso, o embate com o Planalto tende a ser liderado por Aécio
Neves. Ele terá a tribuna do Senado, a infantaria do PSDB e a força dos
51 milhões de votos no segundo turno, quando Marina o apoiou.
Diante deste quadro, alguns aliados entendem que a acriana deveria fazer
um recuo estratégico e disputar a Prefeitura do Rio ou a de São Paulo
no ano que vem. Ela desautoriza as conversas, indicando que seu projeto é
nacional e mira 2018.
A sobrevivência da terceira via marineira dependerá de fatores ainda
imponderáveis, como os danos que a Operação Lava Jato causará aos
grandes partidos e a decisão do ex-presidente Lula de entrar ou não em
uma nova disputa presidencial.
Em público, a ex-senadora desconversa sobre a hipótese de disputar o
Planalto pela terceira vez seguida. "Não consigo ficar na cadeira cativa
de candidata. Meu objetivo de vida não é ser presidente do Brasil",
disse, na segunda-feira.