Por Tostão, ex-jogador do Cruzeiro, médico e colunista da Folha de São Paulo
O Cruzeiro é bicampeão brasileiro, o campeonato mais importante do país. Muito já se falou das virtudes da equipe: ótimo time e elenco, sistema tático e estratégias definidas e modernas, alguns jogadores especiais (Fábio, Everton Ribeiro e Ricardo Goulart), um técnico competente, equilibrado e tranquilo, e outras qualidades.
Mas não podemos perder a referência. O Cruzeiro é excepcional para o nível técnico do futebol que se joga no país. Os adversários são irregulares e possuem inúmeras e graves deficiências.
Os campeões também precisam melhorar. Essa deveria ser a meta do Cruzeiro para os próximos anos. O time precisa, além de Everton Ribeiro, de mais armador habilidoso e criativo, seja volante ou meia. Ricardo Goulart é um excelente meia-atacante, finalizador. Não é um armador, organizador. Marcelo Moreno é artilheiro, raçudo, mas o Cruzeiro seria mais forte se tivesse um centroavante com mais recursos, como Guerrero, Fred ou Barcos, ou um atacante veloz e talentoso, como Tardelli.
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CAMPANHA DO TETRA Todos os jogos do Cruzeiro no Brasileiro
O Cruzeiro teve planejamento, organização e seriedade profissional, virtudes essenciais para se formar um ótimo time. Mas nada disso seria suficiente se não tivesse feito as escolhas certas. Elas não foram por acaso. Essa foi, entre tantas, a principal qualidade de Marcelo, apoiado pela diretoria.
O Cruzeiro, como todos os grandes clubes brasileiros, gastou demais na contratação de jogadores e no pagamento de salários. Alguns reservas, como Júlio Baptista, ganham fortunas. A diferença, repito, está nas escolhas certas. O Cruzeiro formou um bom time e passou a ter mais vitórias. Com isso, aumentou na torcida, especialmente sócios-torcedores (quase 70 mil), e a arrecadação, o que gerou mais dinheiro e mais títulos. Criou-se um ciclo positivo. Enquanto isso, outros clubes que gastam tanto ou mais continuam sem bons times e mais endividados.
Dizem que o presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, no período em que se discutia quem seria o técnico, falou que só havia um nome, o de Marcelo Oliveira, por causa do futebol bonito e eficiente do Coritiba. Foi mais uma escolha certa. Quando o Cruzeiro foi eliminado da Libertadores, amigos e admiradores de Luxemburgo queriam colocá-lo no lugar de Marcelo. O presidente não foi na conversa. Outra bola dentro.
O Cruzeiro tem estrutura para ser um fortíssimo e habitual candidato a todos os títulos. Para isso, dirigentes e torcedores deveriam perder a ilusão e o vício, frequente em todos os clubes, de achar que vitórias e derrotas, inevitáveis, surgem sempre por causa do técnico. A maior deficiência da maioria dos adversários é não ter um time, um conjunto, uma rotina de eficiência.
Marcelo disse que seu sonho é ser técnico do Cruzeiro por mais tempo. É o caminho.