Uma vitória do candidato do PSDB seria a derrota para os tímidos avanços da era petista. Seria a oportunidade para a mídia repetir que quaisquer iniciativas de esquerda estão fadadas ao fracasso
Chegamos ao segundo turno da eleição presidencial. Instituído desde 1989 no Brasil, o dispositivo busca aumentar a legitimidade dos governantes eleitos e possibilitar alianças diversas das tentadas na primeira volta.
Grosso modo, pode-se dizer que no primeiro turno cada um escolhe quem lhe parece ser o melhor candidato. No segundo, alguns seguem votando no melhor, em suas visões, e outros apontam o menos pior.
O Partido Socialismo e Liberdade obteve expressiva vitória nessas eleições. Nossa candidata presidencial, Luciana Genro, somou 1,5 milhão de votos em todo o País. Elegemos cinco deputados federais e 11 estaduais. Em algumas unidades da Federação, como Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, nos aproximamos dos 10% dos votos na disputa para governador. Em São Paulo tivemos quase 190 mil votos para o cargo majoritário.
Acima de tudo, o PSOL obteve um formidável resultado político. Coloca-se agora como força relevante na cena nacional.
O partido tomou a decisão de indicar que seus militantes não devem sufragar Aécio Neves e a coalizão que o apoia, que vai da direita à extrema-direita.
A meu ver, é vital que se impeça a volta das facções mais radicais do reacionarismo tradicional ao poder.
A década petista
O PT soube se aproveitar, nesses 12 anos, de uma expansão na economia internacional para realizar algumas políticas sociais, entre as quais a elevação no valor real do salário mínimo e eficientes iniciativas de suplementação de renda para populações carentes.
De outra parte, a agremiação esforçou-se para não apenas não penalizar nenhuma fração do capital, mesmo em tempos de retração econômica. Concedeu-lhes financiamentos subsidiados, desonerações tributárias e várias facilidades legais.
Com um programa rebaixado, aceitou todo tipo de aliança com os piores setores do espectro político nacional em nome de uma governabilidade de ocasião.
Mais que tudo, sem explicação plausível, a presidenta Dilma Rousseff colocou no centro da agenda de seu mandato, assim que tomou posse, a tarefa de derrubar o crescimento econômico, através do anúncio de cortes orçamentários e seguidas elevações das taxas de juro. O pretexto era evitar um implausível descontrole inflacionário.
O resultado – previsível – foi a manutenção de taxas medíocres de crescimento do PIB, a queda de investimentos e um cenário de estagnação à vista.
O paradoxal é que mesmo diante de tais constatações, uma vitória de Aécio Neves piorará as coisas.
Não apenas o PSDB aplicará a ortodoxia ultraliberal em sua forma pura e dura, como, em vertentes como política externa, a regressão será brutal. Uma maior aproximação com os Estados Unidos e um distanciamento da integração regional têm sido a tônica dos representantes tucanos para essa área.
O que diferencia PT e PSDB não são seus programas e atos, que apresentam vários tópicos convergentes, em especial nos fundamentos da política macroeconômica. O que os diferencia são suas bases sociais.
O PT ainda é majoritariamente o partido que mantém vínculos com os trabalhadores e com os pobres deste País.
Mantém ligações com as classes sociais com quem desejamos dialogar, como fizemos durante a campanha eleitoral.
Por isso, ainda é preferível ter o PT no governo ao PSDB.
Uma vitória de Aécio Neves seria a derrota até mesmo para os tímidos avanços da era petista.
Seria a oportunidade para a mídia repetir e insistir que quaisquer ideias ou iniciativas de esquerda estão fadadas ao fracasso, criando danosa visão em vastos setores da população.
Seria uma derrota histórica para a esquerda brasileira, que se encontra fora do governo.
Iniciei este texto afirmando que o segundo turno é a oportunidade de se votar no menos pior. Assim, votarei na menos pior.
Menos por suas qualidades do que pelos defeitos corrosivos das correntes que sustentam seus oponentes.
Votarei em Dilma.
*Gilberto Maringoni foi candidato a governador de São Paulo pelo PSOL.