Artigo: Uma vitória do povo humilde



*Fabio Anibal Goiris

O dia 26 de outubro de 2014 marca uma efeméride extraordinária para a democracia brasileira e para a luta do seu povo mais simples. Em noite apoteótica as massas populares saíram às ruas do imenso Brasil para enaltecer um Coração Valente: Dilma Rousseff foi reeleita Presidenta. Se doze anos atrás o Partido dos Trabalhadores teve de fazer campanha para que a esperança pudesse vencer o medo agora fez uma cruzada para que a esperança vença o ódio. 

Dilma Rousseff teve de enfrentar uma dupla e aterrorizante situação: no Primeiro Turno afrontou a desonestidade intelectual onde os programas econômicos e sociais eram impunemente distorcidos e, no Segundo Turno, a desonestidade moral, onde ataques pessoais encarnados pelos próprios meios de comunicação predominantes, revistas e rádios conservadores tentaram minar sua personalidade. Os ataques pessoais sobre Lula e Dilma foram desferidos, contudo, por donos de telhados de vidro. Inclusive pelos fascistas de gabinete da Internet que batem boca sem se levantar da cadeira. Daí que o povo passou a não acreditar mais nos Goebbels da direita brasileira. 

A verdade é que o povo incorporou no seu subconsciente o seguinte: o mal remediado cidadão (da desigual sociedade brasileira) quer proteção do Estado. Ao mesmo tempo em que exige um salário digno e um equilíbrio nas condições de disputa do mercado de trabalho. O governo do PT vem caminhando em forma inflexível nessa direção. O povo incorporou este conceito teórico e colocou sobre ele bases práticas: o sufrágio universal depositado nas urnas eletrônicas. 

Mas, para pensar assim (e para votar assim) o povo humilde, e os cidadãos sensíveis à democracia distributivista, tiveram de entender que no subsolo da vitória da esquerda brasileira estavam os programas sociais de grande alcance como o bolsa família e as realizações habitacionais. Mais ainda, compreenderam que foi um esforço gigantesco do governo do PT instituir e aumentar o financiamento federal do ensino básico, catapultar o Prouni e o crédito universitário, além de deslanchar o magnífico programa de ensino profissional, o Pronatec. Além disso, depois de 2002 mais de dezoito novas universidades federais foram inauguradas. Contrariamente, durante os oito anos do governo do PSDB de Aécio Neves o país não inaugurou nenhuma (há de se sublinhar nenhuma) universidade federal. 

Não há como dissuadir a ideia de que o governo de Dilma Rousseff vem combatendo as causas da desigualdade de renda. A luta contra a desigualdade no Brasil começou com Lula em 2003 onde a inclusão social virou política irrenunciável de Estado. Por estas razões, em 2003 começou a se acirrar também o ódio contra o PT vindo de uma classe média direitista e conservadora que não consegue se compadecer do drama social dos seus compatriotas empobrecidos. Diante disto a vitória de Dilma representou uma conquista daquele cidadão desprotegido que espera apreensivo o braço estendido do Estado. Por fim, já se disse que um grama de exemplos vale mais que uma tonelada de lamúrias inúteis.

*O autor é cientista político e professor da UEPG.