Aécio “arrogante” x Dilma “técnica”: a petista saiu-se melhor na Record

Por Rodrigo Vianna/Forum/Escrevinhador


A primeira constatação é óbvia: Dilma e Aécio estavam calminhos na Record, depois da pancadaria no SBT.

Aécio, especialmente, tentou se controlar porque as pesquisas qualitativas devem ter mostrado: a agressividade desmedida contra Dilma pegou mal pra ele. Ficou com a pecha de autoritário, de não conseguir tratar mulher de igual pra igual (aliás, uma das pérolas do tucano foi dizer que “creche é o que de mais importante pode existir para a mulher”; deixou escapar que, pra ele, “mulher” é só a mãe e dona-de-casa; Freud explica).

Apesar de todo treinamento, os marqueteiros não conseguiram tirar de Aécio algo que é quase um vício: o sorriso sarcástico, de canto de boca, passa a impressão de alguma arrogância, de deboche e desprezo. Isso deve agradar o eleitor que já odeia o PT, e sonha em ver Dilma “esmagada”. Mas é um tiro no pé, afasta os indecisos.

Alguns jornalistas notaram – também – um outro vício do tucano. José Roberto de Toledo, do Estadão, falou pelo twitter: “Alguém podia dizer para o Aécio que dá para ouvir ele fungando o tempo todo. Deve estar resfriado, sei lá, mas incomoda”.

Por que Aécio “fungou” tanto? Foi o esforço para evitar a agressividade? Ou o cansaço?

Dilma, que teve sua melhor performance no primeiro debate (na Band), voltou ao perfil “técnico” na Record. Um pouco cansativo, um jeito lento de falar. Como se sabe, ela não tem grande capacidade de oratória. Ainda assim, teve um desempenho consistente – pelo efeito de comparação. Dilma mostrou seriedade, consistência, não riu do adversário.

Aécio “sarcástico” x Dilma “técnica”. Esse parece ter sido um dos saldos do debate da Record.

O outro foi a insistência do candidato do PSDB em mostrar-se pessimista. Ele fala que quer comandar “mudança para o futuro”, mas passa pessimismo. Diz que os empregos estão “sumindo no Brasil”, quando o trabalhador sabe que o desemprego nunca esteve tão baixo. Claro, há muito pra melhorar, mas parece-me que Aécio erra um pouco no tom.

Fora isso tudo, há a questão programática. Num só debate, Aécio atacou a Petrobras (e esse foi o ponto alto de Dilma, ao lembrar que os tucanos querem privatizá-la e entregá-la a petroleiras estrangeiras), levantou dúvidas sobre Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Pronatec…

Passa a impressão de que o projeto do PSDB é mesmo o desmonte do Estado brasileiro.

Isso pode agradar as classes médias do Rio, São Paulo e Brasília – que já estão com ele, e aderem ao discurso privatista.

Mas o povão quer mais Estado, porque sabe que sem governo não há chance de se equilibrar um pouco o jogo.

O debate da Record talvez tenha sido aquele em que ficaram mais claros os dois projetos em disputa: um é o projeto do “mercado”, das classes médias que mantem o sorriso de arrogância ao falar de “programas sociais” como se fossem “esmola”; o outro é o programa de valorização do Estado, como indutor do crescimento e da justiça social.

O ruído midiático, e a onda de “caçar PT corrupto” (como se o PSDB não fosse muito pior nesse quesito), escondem essa disputa. Mas no debate os dois projetos parecem ter aflorado. E isso é positivo para o Brasil. Permite uma escolha mais honesta, sem tanto ruído.

Dilma não ganhou a eleição neste domingo na Record. Nem tampouco Aécio.

Mas o saldo, depois dos três debates, é favorável à candidata à reeleição pelo PT.

A uma semana da eleição, os sinais são de que cresce a rejeição a Aécio e de que Dilma avança (ainda que lentamente) entre os eleitores de baixa renda que votaram em Marina no primeiro turno.

Esse quadro vai perdurar até próximo domingo? Não se sabe…

Até lá, há o JN, a Globo e o dispositivo midiático devem lançar novos mísseis contra Dilma. Aécio mesmo deu a dica na Record: falou várias vezes de Vacari – o tesoureiro do PT, acusado (sem provas, até aqui) de envolvimento com o escândalo da Petrobrás.

O juiz amigo dos tucanos no Paraná, e a Globo de Ali Kamel devem estar preparando surpresas nessa área… E Aécio sabe que daí pode vir a cavalaria a ajudá-lo na reta final.

Mas o eleitor parece vacinado. E Dilma colhe – nesse momento – os resultados de uma campanha que bateu na hora certa e voltou à discussão programática na hora em que Aécio tentou bater de volta…

Ainda assim, essa é uma eleição pra ser decidida por diferença muito estreita, menos de 2 milhões de votos. Inicia-se a semana decisiva…