Operação de guerra contra coronavírus cancela cirurgias e foca casos graves

Pessoas vestidas com roupas de proteção amarelas

Fernando Canzian
FOLHA DE SÃO PAULO

Os comandos das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e das redes de saúde no país deflagraram uma operação de guerra para ampliar o espaço nos hospitais aos pacientes graves com o novo coronavírus que precisem de internação e de equipamentos de respiração com ventilação mecânica.

As UTIs e esses aparelhos serão o destino de mais de 5% dos infectados pelo coronavírus, levando em conta as estatísticas da doença até agora.

A prioridade é que apenas eles, os doentes graves e incapazes de respirar sozinhos, ocupem esses leitos.

Ainda sem ter chegado ao ápice da epidemia, relatos nos hospitais indicam que o Brasil será atingido com extrema gravidade, o que tem provocado muita ansiedade entre as equipes médicas dentro e fora do sistema de UTIs.

São duas as estratégias principais, que demandam rápida reorganização do sistema e medidas drásticas, como o cancelamento em massa de cirurgias programadas para casos sem urgência:

1) Linha de frente: filtrar os doentes nos municípios por meio da atenção básica e, no limite, usar leitos comuns para os casos menos graves;

2) Retaguarda: atendimento nos hospitais com UTIs, onde a prioridade é elevar a todo custo o total de leitos e proteger da epidemia os cerca de 6.500 médicos intensivistas e outros milhares de profissionais de saúde ligados a eles.

Na linha de frente, menos de 10% dos municípios brasileiros têm leitos de UTI, que estão concentrados em cerca de 200 cidades com mais de 150 mil habitantes, entre as 5.570 do país.

O desafio é que os municípios menores façam a triagem criteriosa daqueles que devem ser deslocados a hospitais de referência em seus estados —onde as UTIs já trabalhavam com margem apertada mesmo antes da crise da Covid-19.