Fernando Brito/Tijolaço
Está chegando a hora da primeira decisão, essencial para que se possa chegar em condições de vencer a segunda, aquela que resolverá se o Brasil será – com todos os defeitos imensos que tem o que resta dela – uma democracia ou deslizará para o fascismo, para o império dos esquadrões da morte, das milícias, da polícia e para a redução do povo trabalhador a uma escravização pela sobrevivência, sem direitos ou esperança, incapaz até de resistir à venda, por migalhas, de tudo quanto ainda é patrimônio da Nação.
É isso, e não menos, o que se desenha ameaçadoramente e que nos deve advertir.
Ninguém pense que os grupos fanatizados que, já agora, promovem espetáculos de barbárie e selvageria vão se manter nos cercadinhos das redes sociais e do whattsapp. Vão tomar as instituições policiais, as militares, sem que os seus integrantes que ainda queiram resistir tenham como fazê-lo. Daí para a formação de grupos de milicianos – não faltam embriões – é menos que um passo.
Mesmo que na cúpula haja alguma resistência, a quebra da institucionalidade nos fará viver tempos piores dos que o de 1964, quando o regime autoritário foi implantado a partir da cúpula das instituições armadas (e até contra parte de suas bases) e não havia um movimento como este, de microcéfalos sarados e de insanos querendo poder disparar contra todos os que achem “suspeitos”, “viados”, “drogados”, “feias”, “porcas” ou “comunistas” e uma sucessão de estigmas que, como a estupidez, é infinita e renovável.
Repito: é isso, e não menos, que virá se fraquejarmos.
De novo, explico a razão de, desde sempre, este blog ter assumido uma posição favorável à candidatura que representasse o ex-presidente Lula, que é agora encarnada por Fernando Haddad.
Não é e nunca foi petismo, e não preciso mais que minha trajetória pessoal para prová-lo, embora este tipo de “prova” ideológica, em si, já seja uma concessão ao preconceito e à estupidez. De qualquer forma, uso como atestado de que não estou, hora alguma, preocupado com “hegemonia petista” ou vantagens partidárias.
Mas estou, todo o tempo, preocupado com o significado que a disputa política toma para a população.
É a consciência que nutro, desde rapazote, de que não se faz transformações sociais sem povo, a partir de um grupo de puros e ‘iluminados’. Muito menos se defenderá a democracia pelos ‘doutos’, porque um regime de castas não a sustenta, pela iniquidade que exige.
E para o povo brasileiro, há mais de dez anos, é Lula quem personifica seus anseios e seus direitos.
Não compreendo que haja uma cegueira ao fato de que, com Lula candidato, este avanço do fascismo seria muito menor ou, talvez, existisse de forma apenas marginal. A direita, os dominadores do povo brasileiro e artífices do golpe jamais deixaram de ver esta verdade, tanto que tudo fizeram para persegui-lo, desmoralizá-lo, condená-lo, prendê-lo e, ainda agora, mantê-lo incomunicável com a população.
E fizeram algo, que alguns de mente fraca, na esquerda, agora adotam como “razão”: ou Lula cede e se retira ou “puxará cadeia pelo resto da vida”. Lula, que individualmente seria o mais prejudicado com isso, não cedeu porque sabia que isso seria entregar-lhes o país.
O que apontaram como “egoísmo” é, de fato, heroísmo e martírio.
Não pretendo “virar votos” e considero Ciro Gomes um homem digno, com todo o direito de candidatar-se. Também não o considero, mesmo com sua longa história de individualismo, que o fez transitar por sete partidos diferentes, um homem que coloque suas ambições acima de tudo.
Mas seria cúmplice se silenciasse diante do uso de seu nome para atacar e desqualificar, com os argumentos que a mídia e o Judiciário querem fazer de “senso comum”, aquela que será, a arma que teremos para enfrentar a ascensão fascista.
Há, na lei, a figura da tergiversação, que consiste em que alguém defenda na mesma causa, partes contrárias.
Haverá dois lados, e todos terão de escolher aquele em que ficará.