Apoiar o golpe em curso é fortalecer o que de pior houve na história recente desse país


Pastor Ariovaldo Ramos/Nocaute

Eu passei a adolescência e juventude sob a ditadura militar.

Porque meu pai pertencia à sociedade amigos do Bairro e apoiara o Jango, eu sabia um pouquinho mais do que estava acontecendo, o que me fazia quase um catedrático, numa época de tanta ignorância e obscurantismo, onde era sonegada a jovens, como eu, qualquer informação ou acesso a ilustração vinda das matérias de humanidades.

Eu tinha 18 anos quando o general Ernesto Geisel assumiu a Presidência do regime ditatorial. Ele era o primeiro e, até agora, o único evangélico a assumir o poder presidencial no país. E isso num tempo em que não éramos tantos.

Eu já era evangélico há seis anos. Não é possível descrever o que isso provocou nos evangélicos!

Pastores, principalmente, os que já tinham carreira política federal, que eram bem poucos, assim como pastores, notadamente, de Brasília, começaram a dizer que participaram, ou foram chamados a participar de cultos ou estudos bíblicos com presidente do regime.

Os pastores, com raras exceções foram, imediatamente, co-optados, alguns inclusive se tornaram alunos da Escola Superior de Guerra. Era a apoteose!

Lembro-me que o extraordinário Glauber Rocha, evangélico, como eu, tinha um programa genial na TV, acho que se chamava Canal Livre, e que, ousadamente, começou a dizer que haveria abertura, porque o general Geisel era protestante como nós, e nós protestantes não toleramos ditadura.

Ele tinha razão na tese, os protestantes, por definição, deveriam ser avessos a qualquer ditadura.

Porém, nem ele nem os demais evangélicos, imaginavam que aquele vetusto senhor, membro da mais sólida tradição protestante, concordava com a tortura e o assassinato levados a efeito nos bastidores da ditadura e que foram atribuídos ao descontrole dos grupos paramilitares.

Embora me lembre de uma conversa, logo depois que a ditadura foi derrotada, que sugeria que o General, em questão, tinha aprovado o assassinato da Frente Ampla: Jango, Lacerda e Juscelino.

Agora, como soe acontecer no Brasil, uma fonte estrangeira abre a caixa de Pandora, e escancara a nossa história.

Apelo aos evangélicos que apoiam a este golpe em curso, promovido pelos filhotes da ditadura, que repensem, e entendam que estão apoiando à sobra do que de pior houve na história recente desse país.

Claro que apelo aos que verdadeiramente tem fé, não me dirijo aos que criaram um deus à sua própria imagem e se tornaram proxenetas desse ídolo para enganar o povo, mas aos que, como os pastores daquela época, se deixaram iludir pela falsa impressão de que estavam diante de gente que prezava pelos mesmos valores que eles.

A denúncia está feita, venha para a resistência, a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito quer conversar você.

Nosso luto vem do verbo lutar!