Leonardo Sakamoto/Uol
Cerca de 800 milhões de pessoas ainda passam fome, dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), enquanto mais de 1 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas, indo direto para o lixo. Somadas as áreas agrícolas usadas para produzir esses alimentos que não serão consumidos são do tamanho do Canadá e da Índia juntos. Por fim, um terço do mundo é obeso e corre o risco de adquirir doença cardíaca, diabetes e outros problemas.
Parabéns. Celebramos, no último dia 16, o Dia Mundial da Alimentação.
Não estou defendendo que nos organizemos em comunidades isoladas, cultivemos juta para fiar nossas roupas, boldo e pariparoba para garantir uma reserva médica e restrinjamos nosso lazer a cânticos em torno de fogueiras.
Avançamos tecnologicamente e nos beneficiamos disso – por mais que esse ''processo'' tenhas sido doloroso. E é exatamente por isso, pelo acúmulo de conhecimento sobre o meio em que vivemos, que é possível e lógico reformular nosso padrão de vida. Consumir o que é necessário, repensando o significado de “necessário” – o que inclui uma reflexão sobre a preferência equivocada a alimentos processados, que gasta energia, produtos químicos, embalagens e tendem a ser piores do que os alimentos in natura.
Afinal de contas, o debate sobre o meio ambiente emerge no século 21 como uma discussão sobre a qualidade de vida, não tratando apenas de rios poluídos e derramamento de petróleo, mas também da atual ideia de progresso (alta tecnologia aliada a uma postura consumista), que não está conseguindo dar respostas satisfatórias à sociedade.
Nossa qualidade de vida aumentou ao termos menos tempo para fazer nossas refeições e, consequentemente, optarmos pelo caminho fácil de nos entupir de produtos mais rápidos, mas menos saudáveis, ricos em açúcar, gordura, conservantes e afins? Ou, por outro lado: a entrada de classes mais pobres no consumo através de uma avalanche de carboidratos industrializados vendidos como status social na TV deve ser comemorada?
Postei aqui tempos atrás um trabalho do fotógrafo Peter Menzel e do jornalista Faith D'Alusio sobre as diferenças de dietas em diferentes lugares do mundo. Em Hungry Planet: What the World Eats (Planeta Faminto: O que o Mundo Come, Editora Ten Speed Press) mostra como se alimentam 30 famílias em 24 diferentes países. Da fome à obesidade, as fotos são um bom ponto de partida para a discussão sobre desigualdade social.
No que pese os enormes avanços no combate à fome que ocorreram nos últimos anos, se a comparação fosse feita dentro das fronteiras do Brasil, a disparidade ainda seria grande, pois teimamos em encontrar quem não come como deveria por aqui. É claro, o que significa um gosto amargo a mais por estamos na mesma sociedade.
As fotos não são novas. E os valores, desatualizados. Mas a comparação segue atualíssima.