Pedro Ivo Almeida e Rodrigo Mattos
Do UOL, no Rio de Janeiro
Em meio aos tempos sombrios vividos pelo atletismo, um raio apareceu como salvação: Usain Bolt se tornou o maior nome da modalidade com seu inédito tricampeonato olímpico nos 100 metros rasos na Rio-2016. Como se parecesse pouco, ele acumulou a sua sétima medalha de ouro em oito competições disputadas - só perdeu quando se contundiu. Assim, cumpriu o que se propôs ao final de Londres: virar uma lenda.
A história de Bolt teve os elementos dos filmes clichês norte-americanos. O herói que aos 29 anos tem que se manter no topo, a contusão pouco antes do grande evento, o rival com cara de vilão e passado de doping (Justin Gatlin) - é verdade que ele pagou suas penas e nunca mais foi pego.
E Bolt soube incorporar o papel de protagonista. Deixou o suspense no ar após a lesão na coxa direita nas classificatórias jamaicanas. Ao chegar ao Rio, correu uma eliminatória lenta, se poupando. Mas disse que estava inteiro. E o Engenhão encheu para esperá-lo como aconteceu poucas vezes neste Jogos, ainda que não estivesse completamente lotado - alguns espaços vazios foram verificados.
Houve uma manifestação unânime do estádio a cada vez que ele apareceu na tela, a cada vez que teve o nome anunciado. Como foi em Londres. Bolt não é mais um ídolo da Jamaica: é do mundo.
vitória de Bolt representa a redenção de um esporte atingido por um escândalo sem precedentes de doping pouco antes dos Jogos do Rio-2016. A delegação russa, uma das mais importantes da modalidade, foi excluída pelo envolvimento em um sistema para drogar atletas para melhorar seu desempenho. A própria cúpula da Iaaf (Federação Internacional de Atletismo) caiu por envolvimento no caso ao receber propinas para mascarar testes positivos.
O próprio Bolt disse que o atletismo precisava que ele vencesse. E ele carregou nos seus ombros, de novo, uma modalidade inteira. Agora, só lhe faltará cumprir a tríplice coroa pela terceira vez aqui no Rio-2016, com os títulos também dos 200 m e do 4x100 m, e depois se retirar com a certeza de que é o maior em mais de 114 anos de Olimpíada. E que levará provavelmente outros 100 anos para surgir um novo Bolt.