Por José Reinaldo Tavares
Em 2010 o então deputado federal Carlos Brandão me enviou um vídeo gravado naquele mesmo ano durante uma reunião ocorrida em uma Comissão da Câmara dos Deputados. Na gravação, Sérgio Gabrielli, à época presidente da Petrobras, respondendo a uma pergunta do deputado Brandão sobre a construção de uma grande refinaria no Maranhão, informou que se tratava apenas de um estudo entre outros que a companhia faz sempre. E continuou dizendo que refinarias não faziam parte dos grandes objetivos da companhia e, ainda, que havia refinarias ociosas em todo o mundo. Por fim, concluiu dizendo que não existiam projetos e estudos de viabilidade prontos para uma decisão sobre esse tipo de projeto no Maranhão.
Uns quinze dias depois, Gabrielli fazia parte de um dos maiores estelionatos políticos já produzidos: o lançamento da que seria a maior refinaria do mundo. E para dar maior credibilidade ao anuncio, fizeram uma mise-en-scène digna de Hollywood, que foi a cerimônia do início da terraplanagem da Refinaria Premium de Bacabeira no Maranhão. Faltaram tratores para acomodar Lula, Dilma, Sarney, Roseana e Lobão, e outros membros da oligarquia nas filmagens do evento, registros indispensáveis para futuras propagandas no horário político.
É certo que Gabrielli ficou mudo na solenidade. Mas, Lula, então presidente da República; Dilma, futura presidente; José Sarney, presidente do Congresso Nacional; Roseana Sarney, governadora do estado e candidata a reeleição e Edson Lobão, ministro de Minas e Energia e candidato a senador, se esbaldaram, dizendo que ali, naquele momento, o grupo político deles estava trazendo a riqueza e o progresso que iria mudar para sempre o nosso estado. Seriam 400 mil empregos! Uma patente evolução e o Maranhão, tão maltratado e sofrido, iria ser um dos estados mais poderosos do país.
Ora, Lula era o político de maior credibilidade do Brasil, então quem poderia duvidar do que anunciava? Realmente era muito difícil duvidar, mesmo o povo de Bacabeira, que já havia sido outrora ludibriado com o lançamento de uma gigantesca fábrica de confecções ali mesmo, quase defronte do local da refinaria. E vejam que a embromação contou até mesmo com a presença do então presidente Fernando Henrique Cardoso, convidado pela governadora. O empreendimento, no entanto, só funcionou mesmo no dia da inauguração e deixou endividados milhares de bacabeirenses, que, aliás, foram forçados a assinar papéis, sem saber o que estavam assinando, mas que lhe garantiriam o sonhado emprego. Na verdade, enganados, estavam de fato contraindo dívidas com os proprietários da empresa.
Agora novamente muitos acreditaram, investiram tudo o que tinham e se endividaram, perdendo muito dinheiro.
Na época em que o anúncio da refinaria foi feito, eu escrevi, aqui no Jornal Pequeno, que aquilo tudo era só enganação. Descrevi a fala do presidente da Petrobrás na Câmara e denunciei que tudo aquilo se destinava apenas a eleger Roseana Sarney, que estava mal nas pesquisas, e ainda os dois candidatos ao senado. Tudo engendrado por José Sarney com a anuência do presidente Lula. Puseram-me a pecha de ser contra o Maranhão, ‘como alguém poderia escrever tais barbaridades?’, diziam. ‘Como ser contra aquela maravilha e o progresso’?
Pois bem, o maior estelionato eleitoral que se tem notícia no estado, um dos maiores deste país, teve êxito. Roseana foi eleita, os senadores foram eleitos, mas mesmo assim ainda tiveram que apelar para um desavergonhado abuso de poder econômico e político. Isso, como sabemos, foi o que prolongou e deu uma sobrevida à oligarquia, que já antes havia sido derrotada, e só haviam voltado ao poder a bordo da escandalosa cassação do governador Jackson Lago.
Mas, e agora? Essa refinaria está perdida para sempre? Vejam, essa refinaria, a “Premium”, nascida da megalomania de José Sarney, foi apenas o seu maior truque eleitoral. Nada mais do que isso. Essa jamais será construída. Mas, o Maranhão merece realmente e tem todas as condições de ter uma refinaria menor, em torno de 150 mil barris/dia. E por que digo isso? Porque essa é a quantidade de combustível importada diariamente pelo Porto do Itaqui para consumo local e de outros estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
De fato, já existe aqui toda a infraestrutura logística para essa distribuição, e foi esse o projeto que apresentei para José Dirceu, à época Chefe da Casa Civil do governo Lula. Foi uma iniciativa muito elogiada, mas com o meu rompimento em 2004 com a família Sarney, esse e o projeto da siderúrgica da Baal Steel foram paralisados politicamente. Só seriam retomados em um futuro governo de Roseana Sarney. Como ela perdeu as eleições de 2006 e a crise de 2008 engoliu o processo da siderúrgica chinesa, a descoberta do Pré-Sal fez surgir a fantástica refinaria, embalada pelo sonho do Brasil Grande. Deu no que deu.
Lamentavelmente, retomá-la agora é quase impossível, pois a Petrobrás está envolta em enormes problemas que abalaram profundamente e por muito tempo suas finanças.
Mas, de maneira realista, o Maranhão, em futuro de médio prazo, poderá finalmente ter sua refinaria, menor, mas real. E essa, aliada a muitas outras iniciativas concretas, nos trarão prosperidade e farão jus ao potencial do nosso estado.
Não seremos mais vítimas desses embustes eleitorais. Essa foi a última grande enganação do grupo Sarney.