A pesadíssima campanha da mídia, que produziu grande efeito eleitoral em outubro a favor da oposição começa a revelar agora o seu verdadeiro objetivo.
Roberto Saturnino Braga
Depois de Domenico de Masi dizer que o futuro está no Brasil, outro italiano ilustre, o filósofo Gianni Vattimo reconhece aquilo que nós brasileiros já sabemos e comentamos: que a única parte do mundo onde ocorrem hoje fatos políticos promissores de futuro é a América do Sul. Ele ainda fala de América Latina, uma expressão que nós deixamos de usar desde que o México optou pela integração com a Federação Norteamericana.
O mais importante da entrevista é que Vattimo ressalta a importância do fator motivação do povo na obtenção de avanços políticos e econômicos significativos; para constatar, em desalento, que é justamente o que falta nos países europeus de hoje, onde a política foi substituída por governos técnicos comandados pelos grandes bancos. Ponho-me a pensar, agora, se não poderá a França, agredida tão brutalmente, mobilizar toda a Europa para responder à barbárie com uma escalada de Civilização. Quem sabe se daí não pode surgir a grande motivação do século XXI. Afinal, a França é a França na construção desta Civilização..
Voltando ao nosso Brasil, a referência de Vattimo me fez lembrar a intensa motivação nacional que caracterizou o exitoso período desenvolvimentista dos anos cinquenta do século passado, durante o Governo Kubitschek. A força da liderança do Presidente, a grandeza do projeto formulado e a competência política na sua condução produziram uma mobilização da consciência popular de enorme vibração. É certo que todo aquele projeto nacional avançava sobre uma linha ideológica traçada no período anterior, presidido pela figura maior de Getúlio Vargas e terminado tragicamente, deixando a força latente de uma ansiedade reprimida. Mas o fato é que a proposta de dar um salto na industrialização incipiente, com as duas novas siderúrgicas, Usiminas e Cosipa, com a indústria automobilística, a indústria naval, os pólos petroquímicos, as grandes hidrelétricas de Furnas e Três Marias, as rodovias modernas que ligavam o País de norte a sul, e o projeto símbolo de novo Brasil, a construção da nova e bela capital no planalto central, propiciando a ocupação do enorme território vazio do centro-oeste, todo este conjunto de propostas, formulado de maneira convincente, produziu um grau de mobilização da vontade nacional realmente extraordinário.
Havia, sim, uma oposição, que tentou impedir a posse de Juscelino e depois dar o golpe militar aeronáutico, mas o sentimento popular de aclamação e participação nos grandes feitos sufocou completamente todas as críticas udenistas.
A importância da motivação política se confirmou meio século depois, com a eleição do Presidente Lula em 2002. Convocou-se novamente uma mobilização nacional de grande envergadura, baseada, desta feita, na rejeição do neoliberalismo mercadista e privatista, e na retomada do desenvolvimentismo, agora em novo modelo que incluía uma dimensão social, redistributiva. O símbolo da grande motivação era a própria figura do Presidente, um torneiro mecânico sindicalista de extraordinária capacidade de liderança.
Lula terminou seus oito anos com alto índice de aprovação, mas ao fim do seu segundo mandato a oposição cresceu consideravelmente, com o desgaste natural do exercício do poder, usando o mesmo tema da corrupção utilizado contra Vargas e Kubitschek, mas a mobilização popular que apoiava o novo modelo ainda foi capaz de eleger a sucessora, uma e duas vezes.
O quadro político para o segundo mandato da Presidenta é entretanto muito mais difícil: pela força adquirida pela oposição em nova ofensiva anticorrupção, pelas dificuldades da situação econômica e pelo natural arrefecimento da força mobilizadora do novo modelo com o passar do tempo. Pessoalmente, eu arrolo uma quarta causa, poderosíssima, talvez a mais difícil de enfrentar: os interesses do grande capital em destruir duas outras novas dimensões da nova política brasileira: o controle nacional do seu petróleo e as alianças políticas com os emergentes BRICS.
Este quadro de dificuldades pode se configurar numa espécie de atoleiro em que o País se arraste pelos quatro anos próximos, com um grau de motivação relativamente baixo, mesmo que ocorra uma certa recuperação econômica. Mas pode também surgir oportunidade para uma nova convocação da motivação popular. E a oportunidade pode decorrer justamente do estrepitoso ataque que sofre a Petrobras por todos os lados, numa evidente tentativa de destruí-la para tirar dos brasileiros o controle da sua grande reserva de petróleo. Uma ação coordenada que compreende uma forte e artificial baixa do preço do petróleo, evidenciando o propósito do grande capital de quebrar a Petrobras e a Pedevesa venezuelana. Não por acaso, a Presidenta Dilma referiu-se a inimigos externos da Petrobras e marcou sua primeira viagem em seu novo mandato para a Venezuela.
A pesadíssima campanha da mídia, que produziu grande efeito eleitoral em outubro a favor da oposição, começa agora, pela continuidade infindável e pelo despropósito da intensidade, começa a revelar o seu verdadeiro objetivo, e a levantar reações populares que podem vir a recarregar as energias da mobilização nacional. Mobilização para a defesa da maior e mais querida empresa brasileira vitimada por uma verdadeira guerra. O Brasil pode bem se valer desta guerra para renovar as desgastadas energias de motivação popular, decisivas no processo de desenvolvimento, como ressaltou Gianni Vattimo.
Depois de Domenico de Masi dizer que o futuro está no Brasil, outro italiano ilustre, o filósofo Gianni Vattimo reconhece aquilo que nós brasileiros já sabemos e comentamos: que a única parte do mundo onde ocorrem hoje fatos políticos promissores de futuro é a América do Sul. Ele ainda fala de América Latina, uma expressão que nós deixamos de usar desde que o México optou pela integração com a Federação Norteamericana.
O mais importante da entrevista é que Vattimo ressalta a importância do fator motivação do povo na obtenção de avanços políticos e econômicos significativos; para constatar, em desalento, que é justamente o que falta nos países europeus de hoje, onde a política foi substituída por governos técnicos comandados pelos grandes bancos. Ponho-me a pensar, agora, se não poderá a França, agredida tão brutalmente, mobilizar toda a Europa para responder à barbárie com uma escalada de Civilização. Quem sabe se daí não pode surgir a grande motivação do século XXI. Afinal, a França é a França na construção desta Civilização..
Voltando ao nosso Brasil, a referência de Vattimo me fez lembrar a intensa motivação nacional que caracterizou o exitoso período desenvolvimentista dos anos cinquenta do século passado, durante o Governo Kubitschek. A força da liderança do Presidente, a grandeza do projeto formulado e a competência política na sua condução produziram uma mobilização da consciência popular de enorme vibração. É certo que todo aquele projeto nacional avançava sobre uma linha ideológica traçada no período anterior, presidido pela figura maior de Getúlio Vargas e terminado tragicamente, deixando a força latente de uma ansiedade reprimida. Mas o fato é que a proposta de dar um salto na industrialização incipiente, com as duas novas siderúrgicas, Usiminas e Cosipa, com a indústria automobilística, a indústria naval, os pólos petroquímicos, as grandes hidrelétricas de Furnas e Três Marias, as rodovias modernas que ligavam o País de norte a sul, e o projeto símbolo de novo Brasil, a construção da nova e bela capital no planalto central, propiciando a ocupação do enorme território vazio do centro-oeste, todo este conjunto de propostas, formulado de maneira convincente, produziu um grau de mobilização da vontade nacional realmente extraordinário.
Havia, sim, uma oposição, que tentou impedir a posse de Juscelino e depois dar o golpe militar aeronáutico, mas o sentimento popular de aclamação e participação nos grandes feitos sufocou completamente todas as críticas udenistas.
A importância da motivação política se confirmou meio século depois, com a eleição do Presidente Lula em 2002. Convocou-se novamente uma mobilização nacional de grande envergadura, baseada, desta feita, na rejeição do neoliberalismo mercadista e privatista, e na retomada do desenvolvimentismo, agora em novo modelo que incluía uma dimensão social, redistributiva. O símbolo da grande motivação era a própria figura do Presidente, um torneiro mecânico sindicalista de extraordinária capacidade de liderança.
Lula terminou seus oito anos com alto índice de aprovação, mas ao fim do seu segundo mandato a oposição cresceu consideravelmente, com o desgaste natural do exercício do poder, usando o mesmo tema da corrupção utilizado contra Vargas e Kubitschek, mas a mobilização popular que apoiava o novo modelo ainda foi capaz de eleger a sucessora, uma e duas vezes.
O quadro político para o segundo mandato da Presidenta é entretanto muito mais difícil: pela força adquirida pela oposição em nova ofensiva anticorrupção, pelas dificuldades da situação econômica e pelo natural arrefecimento da força mobilizadora do novo modelo com o passar do tempo. Pessoalmente, eu arrolo uma quarta causa, poderosíssima, talvez a mais difícil de enfrentar: os interesses do grande capital em destruir duas outras novas dimensões da nova política brasileira: o controle nacional do seu petróleo e as alianças políticas com os emergentes BRICS.
Este quadro de dificuldades pode se configurar numa espécie de atoleiro em que o País se arraste pelos quatro anos próximos, com um grau de motivação relativamente baixo, mesmo que ocorra uma certa recuperação econômica. Mas pode também surgir oportunidade para uma nova convocação da motivação popular. E a oportunidade pode decorrer justamente do estrepitoso ataque que sofre a Petrobras por todos os lados, numa evidente tentativa de destruí-la para tirar dos brasileiros o controle da sua grande reserva de petróleo. Uma ação coordenada que compreende uma forte e artificial baixa do preço do petróleo, evidenciando o propósito do grande capital de quebrar a Petrobras e a Pedevesa venezuelana. Não por acaso, a Presidenta Dilma referiu-se a inimigos externos da Petrobras e marcou sua primeira viagem em seu novo mandato para a Venezuela.
A pesadíssima campanha da mídia, que produziu grande efeito eleitoral em outubro a favor da oposição, começa agora, pela continuidade infindável e pelo despropósito da intensidade, começa a revelar o seu verdadeiro objetivo, e a levantar reações populares que podem vir a recarregar as energias da mobilização nacional. Mobilização para a defesa da maior e mais querida empresa brasileira vitimada por uma verdadeira guerra. O Brasil pode bem se valer desta guerra para renovar as desgastadas energias de motivação popular, decisivas no processo de desenvolvimento, como ressaltou Gianni Vattimo.
Carta Maior