alvo do impeachment não é Dilma, mas o PT |
A operação Lava Jato, segundo pessoas que tiveram algum tipo de acesso ao processo, tem provas substanciais e vai levar muita gente à cadeia.
A Polícia Federal teria feito um trabalho que deixa pouca margem à defesa e por isso a grande quantidade de delações premiadas.
Quando o réu se vê frente ao que já se acumulou de informaçõe sobre os crimes que cometeu, abre o bico para tentar se livrar de uma imensa pena.
A despeito de quem possa vir a ser punido, esse é o papel da PF.
A mesma Polícia Federal indiciou ontem 33 pessoas no caso do trensalão tucano de São Paulo. Também cumprindo seu papel de investigar.
As diferenças entre um caso da PF e o outro não parece ser o processo de investigação, mas os vazamentos seletivos por um lado e a forma como a mídia tradcional aborda cada um deles.
Hoje, por exemplo, todos os grandes jornais do país dão manchetes buscando incriminar o partido de qualquer forma na Operação Lava Jato.
O gancho é o depoimento de Augusto Mendonça, do grupo Toyo Setal, de que teria doado recursos de propina para o caixa oficial do partido.
Ao contrário do que toda as reportagens destacam, no entanto, o executivo teria de fato dito que se encontrou com o tesoureiro do PT, João Vaccari, para finalizar a operação, mas acrescentou que “na ocasião não informou a Vaccari que as doações estavam sendo feitas a pedido do então diretor de Serviços da Petrobras”.
Ou seja, a ser verdade que houve doação por caixa 1 que poderia envolver propina, o que é praticamente impossível de se comprovar, o tesoureiro do PT não fez nenhum tipo de acerto com o doador. E isso, segundo, o delator do caso.
Mas Vaccari está sendo achincalhado e transformado em bandido por todos os veículos de comunicação.
Ao mesmo tempo nenhum dos 33 indiciados ontem no caso do trensalão tucano teve seu nome citado nas reportagens dos veículos tradicionais.
E o caso não ganhou nem destaque nas capas desses jornais.
Aliás, o único nome citada nas matérias é o de José Serra, para dizer que “investigado ele não foi indiciado”.
Ou seja, no caso de uma investigação que envolve tucanos, só o inocentado é citado. No caso petista, alguém que nem é citado é criminalizado.
Há uma clara desproporção nas coberturas. E ha também uma intenção clara por trás delas.
O PT é um inimigo a ser derrotado pela mídia tradicional. E neste momento o principal objetivo não é nem criar clima para um impeachment de Dilma, porque essa operação careceria de outras condicionantes.
Impeachment não é apenas uma operação jurídica, ele também precisa de condições políticas.
Ao que parece o objetivo é o de colocar o PT ou na completa ilegalidade ou o de lhe imputar multas tão altas que praticamente o inviabilizem.
A operação em curso (há algum tempo aliás) é a de derrotar o PT. Dilma seria algo para o futuro. E talvez até se tornasse uma operação desnecessária se ficasse completamente amarrada a se defender das acusações e visse seu partido completamente destruído.
O PT, independente de ter a presidência da República e cinco governadores, hoje é um partido muito mais fraco do ponto de vista simbólico do que já foi no passado. E também por isso se tornou um alvo fácil para qualquer denúncia. Tudo cola no partido.
E isso tem relação com o fato de em outros momentos a agremiação ter se acomodado na defesa de dirigentes que foram acusados sem provas por um lado e ter sido leniente com outros filiados que claramente estavam envolvidas em ilicitos.
O partido parece ter percebido isso e nos últimos tempos e mudou sua postura. Mas sua ação ainda é tímida.
O que vem pela frente é uma avalanche de acusações para incriminar o PT. O alvo ainda não é Dilma. Ela é o bode na sala.
Enquanto petistas estiverem preocupados em defendê-la, o partido vai sendo desgastado e demolido. Até que ninguém terá mais coragem para defendê-lo.
Na última eleição muitos jovens ousaram colocar a estrela vermelha do PT no peito.
Pode ter sido a última vez se a direção do partido não tiver coragem de enfrentar essa batalha com coragem e determinação. E ao mesmo tempo não tiver a ousadia de abrir mais espaços para novas lideranças que batam com firmeza no peito e defendam a história de um projeto que, com altos e baixos, não pode ser tratado e nem se deixar tratar como uma organização criminosa.