Rodrigo Vianna: Golpe midiático em marcha repete o de 2006

Matéria denuncia golpismo da mídia conservadora
A Justiça reconheceu o caráter eleitoreiro da última edição de Veja – e proibiu que seja feita publicidade da revista. Reparem: não se impede a circulação da revista, mas se proíbe que a edição cumpra seu papel nefasto de propaganda mentirosa a serviço do PSDB – às vésperas da eleição.

Por Rodrigo Vianna, em seu blog

A decisão judicial traz alento. Mas não interrompe o golpe midiático. Reparem também que a Globo, na sexta-feira, não deu qualquer repercussão à “denúncia” desesperada de Veja.

O JN fugiu desse terreno pantanoso. Por um motivo muito claro: Dilma, com seu duro pronunciamento contra o golpismo da Editora Abril, mandou um recado para Ali Kamel.

A presidenta avisou que, se a Globo entrasse na aventura, teria resposta no mesmo tom.

Imaginem a seguinte situação: o JN embarca na aventura golpista de Veja, promovendo a leitura da edição impressa em rede nacional, por volta de 20h de sexta-feira.

Menos de duas horas depois, Dilma abre o debate da Globo denunciando a própria Globo por golpismo.

Por isso, o JN fugiu do pau.

E, também, porque a revista da marginal não traz qualquer prova, nada. O texto da revista mesmo diz que os “fatos” narrados pelo doleiro não servem para comprometer Lula e Dilma (isso está lá no texto da revista – que me recuso a linkar).

Ou seja, o texto faz a ressalva, mas a capa da revista da marginal serve como panfleto tucano.

Pois bem, esse era o quadro na sexta-feira…

Acontece que, neste sábado, Dilma já não terá voz para responder. Não há propaganda eleitoral. Não há debate. Os candidatos estão proibidos de falar. Mas a Globo de Ali Kamel está livre para agir – no limite da irresponsabilidade.

Do que estou falando?

A Folha, na edição deste sábado, deu manchete principal para a “criminosa” (nas palavras de Dilma) edição de Veja. A Folha endossou a denúncia de um bandido, feita sem provas, a 3 ou 4 dias da eleição.

Qual o objetivo dessa manchete da Folha? Oferecer uma saída plausível para que Ali Kamel e a família Marinho levem o golpismo midiático para o JN de sábado.

É assim que eles trabalham: operações casadas – como se pode ler aqui, num texto didático de Luiz Carlos Azenha.

Em 2006, eu estava na Globo. Azenha, eu e outros colegas acompanhamos de perto a cobertura enviesada promovida pela Globo no chamado escândalo dos “aloprados”.

A Globo colocou Lula na defensiva: o aparato jornalístico global – durante 10 dias – abria espaço para que os candidatos Alckmin (PSDB), Cristovam (PDT) e Heloisa Helena (PSOL) perguntassem no JN “de onde veio o dinheiro para a compra do dossiê dos aloprados?”.

Era um massacre com ares jornalísticos. E era a preparação para o grande final… que viria logo depois.

Faltando 3 dias para a eleição de 2006 (primeiro turno), as fotos do dinheiro apareceram.

Na verdade, o delegado Bruno (da PF) entregou as fotos para Cesar Tralli, da Globo. Um produtor da Globo me contou que, quando Tralli mostrou o material bombástico, a direção da Globo (Ali Kamel) teria dito: “não podemos dar essas fotos sozinhos; seremos acusados de um golpe; só podemos dar se o delegado vazar também para outros jornais”.

E assim se fez: no dia seguinte, o delegado Bruno chamou meia dúzia de jornalistas e entregou as fotos.

A página do Estadão na internet logo publicou. Assim, o JN sentiu-se liberado para também noticiar o “fato” em sua edição, a 3 dias do primeiro turno.

O mesmo roteiro desenha-se agora.

Na sexta, a Globo fugiu do assunto: por cautela. Não seria bonito ver Dilma denunciando a Globo por golpismo dentro dos estúdios da Globo no Rio.

Mas nada como um dia depois do outro. O sábado chega, a “Folha” endossa a “Veja”, e assim Ali Kamel ganha o álibi perfeito: “poxa, virou um fato jornalístico, todo mundo está divulgando”.

Nessa tarde de sábado, essa decisão será amadurecida. Se houver chance de empurrar Aécio para a vitória, o JN levará a “denúncia” para o JN.

Um amigo jornalista – com mais de 30 anos de experiência – foi quem deu o alerta: “eles estão com o roteiro pronto – da Veja para a Globo, com endosso da Folha”.

Segundo esse colega jornalista, a operação se confirmada – “seria um fato ainda mais grave do que a manipulação do debate Collor x Lula em 1989".

Se Dilma mantiver uma dianteira folgada nas pesquisas (Ibope e DataFolha) que serão concluídas nas próximas horas, aí o JN provavelmente será comedido: pode simplesmente ignorar a Veja, ou então pode tratar a revista da marginal de forma mais discreta…

Mas se houver qualquer sinal de que Aécio pode reagir, a Globo entrará pesado. Não tenham dúvidas.

A Democracia brasileira segue sequestrada por meia dúzia de famílias que controlam as comunicações.

Dilma mostrou, na sexta, que carrega com ela a coragem brizolista para enfrentar os barões midiáticos.

Se conseguir a vitória, o confronto será mais do que necessário, será inevitável daqui pra frente.

Os golpistas tentam empurrar Aécio pra vitória, na marra. E se não conseguirem, já sinalizam que o caminho da oposição será o golpe jurídico-midiático.

O confronto está claro, cristalino. Não adianta mais fugir dele.

O golpe pode não vir no JN de hoje, se Dilma mantiver a sólida vantagem de 8 ou 10 pontos que aparece nos trackings internos deste sábado.

Mas o golpismo voltará a cada semana, a cada manchete.

É hora de tratar os barões da mídia como de fato são: inimigos!

Não do PT e da esquerda; inimigos de um projeto social generoso, inimigos da Democracia.

Os barões da mídia representam o atraso, o preconceito, são o partido de direita no Brasil.

Um partido extremista, que precisa ser enfrentado, e derrotado. Nas urnas e nas ruas.

PS do Viomundo: A Globo já deu o primeiro tiro, reproduzindo as denúncias da revista Veja no Jornal Hoje, em reportagem de 5 minutos e 21 segundos. Aproveitou-se de uma manifestação da UJS diante do prédio da Abril, em São Paulo. A reportagem de Ali Kamel não diz que a revista Veja antecipou sua edição em dois dias, nem que a Globo faz jogo casado com a Veja em campanhas eleitorais, nem que o esquema midiático funcionou em 2002, 2006 e 2010. Em resumo, a denúncia da “barbárie” dos jovens socialistas é feita de forma descontextualizada.

PS2 do Viomundo: Segue relato de um jornalista que trabalha na Abril sobre o clima no prédio da Marginal de Pinheiros:

Da editora Abril, coletei ontem e hoje o testemunho de jornalistas que trabalham em quatro publicações diferentes da casa – nenhum deles na Veja. A palavra mais repetida foi “vergonha”. Há um clima de intensa insatisfação no prédio da marginal Pinheiros. “Passou dos limites”, “Se pudesse, pedia demissão”, “Se não processar por calúnia, o governo é covarde” foram algumas das coisas que ouvi por telefone e whatsapp. A edição impressa foi disputada. Em ao menos uma redação, trechos da reportagem foram lidos em voz alta. As reações da plateia variavam entre o riso e a indignação. Em alguns andares, houve comemoração com a chegada da manifestação que picou revistas e pichou muros da editora. Há também quem esteja otimista, vislumbrando na manobra o canto do cisne do “reino da baixaria”, como definiu uma das fontes. “A Veja queima o nosso filme. Até por razões de mercado, a Abril não pode ficar marcada como sinônimo de ódio e irresponsabilidade. E isso justamente com a sua maior revista”.

Fonte: Viomundo