Folha de São Paulo(21/10)
Um auxiliar do doleiro Alberto Youssef disse em depoimento à Justiça federal nesta segunda-feira (20) que outros parlamentares do PSDB receberam propina do esquema além do senador Sérgio Guerra, morto em março deste ano.
A informação é do advogado Haroldo Nater, que defende o empresário Leonardo Meirelles, acusado de ter feito remessas ilegais para o doleiro.
Meirelles não foi autorizado pelo juiz Sergio Moro a citar nomes, mas deu uma pista de quem seria um dos parlamentares do PSDB, segundo Nater: afirmou que ele era da mesma região de Youssef. O doleiro nasceu em Londrina, no Paraná.
O juiz não autorizou a menção a nomes de deputados e senadores porque eles têm direito a foro privilegiado e só podem ser investigados pelo Supremo Tribunal Federal.
Meirelles, ainda segundo seu advogado, soube desses pagamentos porque frequentava o escritório de Youssef na região em São Paulo. Meirelles é um dos donos da Labogen, uma das empresas que foi usada pelo doleiro para remeter US$ 444,7 milhões ao exterior, o equivalente hoje a R$ 1,1 bilhão.
A Folha revelou na última quinta (16) que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa citou Guerra no seu acordo de delação premiada como beneficiário de propina para esvaziar a CPI da Petrobras, no final de 2009. À época, Guerra era presidente do PSDB. Ele morreu em março deste ano, vítima de câncer de pulmão.
A CPI da Petrobras começou e julho de 2009 e acabou em dezembro sem comprovar nenhuma das suspeitas de desvios e superfaturamento que surgiram quando a comissão foi instalada, em março daquele ano.
Guerra (PSDB-PE) e outro senador tucano Álvaro Dias (PSDB-PR) deixaram a CPI no final de outubro dizendo que o rolo compressor do governo barrava investigações sérias.
Segundo Costa, o então presidente do PSDB recebeu R$ 10 milhões para usar na campanha eleitoral para deputado federal em 2010. O tucano foi eleito como o sexto mais votado em Pernambuco. O PSDB disse que "defende que todas as denúncias sejam investigadas com o mesmo rigor, independente da filiação partidária dos envolvidos e dos cargos que ocupem".
Os recursos para o suborno, ainda de acordo com o ex-diretor da estatal, teriam sido fornecidos pela Queiroz Galvão, empreiteira que havia sido contratada para fazer parte da refinaria Abreu e Lima. A empreiteira nega que tenha feito qualquer pagamento ilícito e enfatizou que só faz doações legais a partidos.
Costa já disse à Justiça que os contratos da refinaria foram superfaturados para que houvesse recursos para serem distribuídos a partidos que indicavam diretores da Petrobras. Partidos como o PT, PMDB e PP ficavam com percentuais que variavam de 1% a 3% do valor líquido dos contratos da estatal, ainda segundo Costa.
CHEFE
Leonardo Meirelles afirmou no depoimento que Youssef era o chefe do esquema de lavagem de dinheiro, ainda segundo o seu advogado. "Youssef tinha poder de mando, dirigia as operações e falava com as empreiteiras. Claro que era o chefe", afirma Nater.
O doleiro disse em interrogatório que não comandava o esquema: "Não sou mentor ou chefe da organização criminosa. Tinha gente mais elevada, inclusive acima do Paulo Roberto Costa, no caso agentes públicos", disse no último dia 9. Agentes públicos era um eufemismo para políticos.
A Folha não localizou até este momento o advogado de Youssef para comentar a acusação de seu auxiliar.